quinta-feira, 16 de junho de 2016

Lenda dos Orixás - Nanã - Nanã tem um filho com Oxalufã



Nanã era considerada grande justiceira.
Qualquer problema que ocorresse,
todos a procuravam para ser a juíza das causas.
Mas sua imparcialidade era duvidosa.
Os homens temiam a justiça de Nanã,
pois se dizia que Nanã só castigava os homens
e premiava as mulheres.
Nanã tinha um jardim com um quarto para os eguns,
que eram comandados por ela.
Se alguma mulher reclamava do marido,
Nanã mandava prendê-lo.
Batia na parede chamando os eguns.
Os eguns assustavam e puniam o marido.
Só depois Nanã o libertava.

Ogum foi reclamar a Ifá sobre o que ocorria.
Segundo Exu, conhecido como bisbilhoteiro,
Nanã queria dizimar os homens.
Os orixás reunidos resolveram dar um amor para Nanã,
para que ela se acalmasse
e os deixasse em paz.
Os orixás enviaram Oxalufã nessa missão.

Chegando à casa de Nanã,
Oxalufã foi servido com ricos alimentos.
Mas o velho pediu-lhe que fizesse um suco de igbins, de caracóis.
Oxalufã, muito sábio, fez Nanã beber com ele o suco.
Nanã bebeu do omi eró, a água que acalma.
Assim Nanã foi se acalmando.
Cada dia que passava Nanã se afeiçoava mais a Oxalufã.

Pouco a pouco Nanã foi cedendo aos pedidos de Oxalá.
Mas até então Nanã não havia mostrado a ele seu jardim.
Um dia uma mulher queixosa do marido procurou Nanã,
e ela, aconselhada por Oxalufã, quis ouvir ambos os cônjuges,
não só a mulher, mas também o seu marido.

Nanã tinha se acalmado.
Mostrou de vez todo o seu reino a Oxalufã.
Mostrou também como comandava os eguns.
Oxalá observou tudo.
Um dia, quando Nanã se ausentou de casa,
Oxalá vestiu-se de mulher e foi ter com os eguns.
Com a voz mansa como a da velha,
Oxalá ordenou os eguns que dali em diante
eles atenderiam aos pedidos do homem que vivia na casa dela.

Em sua volta Nanã foi surpreendida com a afirmação de Oxalá,
que ele também mandaria nos eguns.
Mesmo contrariada, Nanã acatou o dito,
pois estava enamorada do velho,
queria ter com ele um filho.
Mas Oxalá disse a Nanã
que não poderiam ter um filho,
pois ambos tinham o mesmo sangue.
Nanã estava inconformada
e não aceitou o interdito.
Nanã preparou uma comida contendo um pó mágico
e o pó fez com que Oxalá adormecesse.
Aproveitando-se do sono de Oxalufã,
Nanã deitou-se com ele e engravidou.
Quando acordou,
Oxalá ficou muito contrariado.
Não podia mais confiar em Nanã,
pois Nanã se aproveitara do sono de Oxalá.
E Oxalá teve que abandonar Nanã.
Abandonou Nanã e foi viver com Iemanjá.



[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 198 – 200. Originalmente encontrado em Monique Augras, 1983, pp. 136-7.

Egum [Égún] – antepassado, espírito de morto, o mesmo que egungunm; alguns orixás são eguns divinizados.
Igbim [Ígbin] – caracol catassol; animal predileto de Oxalá.
Omi Eró [Omi èró] – literalmente, água que acalma; abô de folhas suaves; também “sangue” de caracol.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

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