sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Senhora das tempestades, senhora dos raios...
Cinco minutos para Iansã
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Cinco minutos para IANSÃ(ndy) em dia de lua cheia, por Maria Bethânia
Iansã – Maria Bethania
Iansã comanda os ventos E a força dos elementos Na ponta do seu florim É uma menina bonita Quando o céu se precipita Sempre o princípio e o fim Iansã comanda os ventos E a força dos elementos Na ponta do seu florim É uma menina bonita Quando o céu se precipita Sempre o princípio e o fim…
Iansã é um Orixá feminino muito famoso no Brasil, sendo figura das mais populares entre os mitos da Umbanda e do Candomblé em nossa terra e também na África, onde é predominantemente cultuada sob o nome de Oiá. É um dos Orixás do Candomblé que mais penetrou no sincretismo da Umbanda, talvez por ser o único que se relaciona, na liturgia mais tradicional africana, com os espíritos dos mortos (Eguns), que têm participação ativa na Umbanda, enquanto são afastados e pouco cultuados no Candomblé. Em termos de sincretismo, costuma ser associada à figura católica de Santa Bárbara. Iansã costuma ser saudada após os trovões, não pelo raio em si (propriedade de Xangô ao qual ela costuma ter acesso), mas principalmente porque Iansã é uma das mais apaixonadas amantes de Xangô, e o senhor da justiça não atingiria quem se lembrasse do nome da amada. Ao mesmo tempo, ela é a senhora do vento e, conseqüentemente, da tempestade.
O furacão em timelapse, visto do espaço. Fonte: repubblica tv
quinta-feira, 14 de maio de 2015
O Credo dos Otimistas
sexta-feira, 1 de maio de 2015
terça-feira, 14 de abril de 2015
Qual é o nome do seu Erê ? O meu é Serpente de Ouro
No Candomblé, Erê é o intermediário entre a pessoa e o seu Orixá, é o aflorar da criança que cada um guarda dentro de si; reside no ponto exato entre a consciência da pessoa e a inconsciência do orixá. É por meio do Erê que o Orixá expressa a sua vontade, que o noviço aprende as coisas fundamentais do candomblé, como as danças e os ritos específicos do seu Orixá.
A palavra Erê vem do yorubá, iré, que significa “brincadeira, divertimento”. Daí a expressão siré que significa “fazer brincadeiras”. O Erê (não confundir com criança que em yorubá é omodé) aparece instantaneamente logo após o transe do orixá, ou seja, o Erê é o intermediário entre o iniciado e o orixá.
Durante o ritual de iniciação no Candomblé, o Erê é de suma importância pois, é o Erê que muitas das vezes trará as várias mensagens do orixá do recém-iniciado.
O Erê às vezes confundido com Ibeji, na verdade é a inconsciência do novo omon-orixá, pois o Erê é o responsável por muita coisa e ritos passados durante o período de reclusão. O Erê conhece todas as preocupações do iyawo (filho), também, aí chamado de omon-tú ou “criança-nova”. O comportamento do iniciado em estado de “Erê” é mais influenciado por certos aspectos da sua personalidade, que pelo carácter rígido e convencional atribuído ao seu orixá. Após o ritual do orúko, ou seja, nome de iyawo segue-se um novo ritual, ou o reaprendizado das coisas chamado Apanan.
A confusão entre Ibeji e Erê é muito frequente, ao ponto que em algumas casas de candomblé e batuque Ibeji é referido como Erê (criança) que se manifesta após a chegada do orixá, em outras são cultuados como Xangô e ou Oxum crianças. Porém na verdade Ibeji é um orixá independente dos Erês. Dado o facto conhecido e recorrente de que muita gente transita entre o Candomblé e a Umbanda, é também natural que esta confusão se acentue, dados os conceitos e entendimentos diferentes que existem nas duas religiões e que muitas vezes as pessoas não conseguem diferenciar.
Na Umbanda, Erês, Ibejada, Dois-Dois, Crianças, ou Ibejis são entidades de carácter infantil, que simbolizam pureza, inocência e singeleza e se entregam a brincadeiras e divertimentos. Pedem-lhes ajuda para os filhos, para fazer confidências e resolver problemas. Geralmente supõe-se que são espíritos que desencarnaram com pouca idade e trazem características da sua última encarnação, como trejeitos e fala de criança e o gosto por brinquedos e doces. Diz-se que optaram por continuar sua evolução espiritual através da prática de caridade, incorporando em médiuns nos terreiros de Umbanda. São tidos como mensageiro dos Orixás, respeitados pelos caboclos e pretos-velhos. Geralmente, são agrupados em uma linha própria, chamada de Linha das Crianças, Linha de Yori ou Linha de Ibeji. Costumam ter nomes típicos de crianças brasileiras, como Rosinha, Mariazinha, Ritinha, Pedrinho, Paulinho e Cosminho. Seus líderes de falange incluem Cosme e Damião. Comem bolos, balas, refrigerantes, normalmente guaraná e frutas.
Então: Qual é o nome do seu Erê? Deixe nos comentários !
quinta-feira, 9 de abril de 2015
Xirê de Oxumarê
ÒSUNMARÈ
Arò bó bò Yí! (Neste dia que nasce lhe rendemos graças!)
Òsunmarè lelé mo rí Òsunmarè
Lelé mo rí rà ba ta (Oxumarê encontra-se andando no chão. É preciso saber encontrar Oxumare)
Lelé mo rí Òsunmaré (andando sobre o chão é preciso saber encontrar por que ela se esconde. Tenha cuidado por onde anda para não chuta-la (ou pisá-la)).
Ódí náà léwà (Ela é teimosa, mas também é bela).
Léwà léwà e (ela é bela, bela).
Ódí náà léwà (Ela é teimosa, mas também é bela)
Léwà léwà e (ela é bela, bela)
O bi òjò birí bò (Ele surge através de pequenas gotas de chuva)
O mió aráiye (Água doce que sustenta a humanidade)
Jô ma ndi o pe (Ele sempre vem quando o chamamos)
Jô ma ndi o pe (Ele sempre vem quando o chamamos)
E sìn a bebe ko e dìde (Nós adoramos sua dança e seu ato de ir ao chão e depois se levantar)
E sìn a bebe ko e dìde (Nós adoramos sua dança e seu ato de ir ao chão e depois se levantar)
O dí ma dí ma (Ele sempre foi, sempre foi)
Òsunmarè aidan (Oxumare sempre foi belo)
Ma sán rí ma sa ibó (O céu é um lugar de adoração)
E e e o fi-ko fi opè (Devemos olhá-lo com respeito e dar graças)
Arò bó bò yí! U nké lè sìn (Aróbò bò yi louvamos e cultuamos sua força)
A ni wère lókan (Vós sois um jovem bravo!)
Àwa e kó oribande (traga para nós a boa sorte)
E hàn oribande (A sua presença nos traz a boa sorte)
Àwa bí a ma gbo ji bè (A cada dia que despertamos damos graças para que, assim como o dia que nasce, tenhamos também nossas vidas renovadas).
E ba kú èwe lè (a cada dia que nasce, nossas vidas possam ser renovadas com a sua força)
Arò bó bò yí!
A bo mojúbà a wù rí ko kun (Nós o adoramos! Mojubá! Nós o reverendamos quando vemos o arco-íris)
A ro lè (Nele encontramos sua força)
A lè a lè a pà ra dà (Seu poder e sua força o permite ficar invisível)
A lè a lè apà ra o (Ele pode estar caminhando ao nosso lado sem que possamos vê-lo)
Wù lè ké wá o jó rí o (Cantamos para louvar sua força e agrada-lo. Venha dançar para que possamos vê-lo)
Wé wé ké (Rola, rola e dança)
Wá o jó rí o (Vem dançar para que possamos vê-lo)
Ké ké dá lè mi ìran lê wá (Cantamos, cantamos para que traga sua força até nós que somos sua família)
Ké ké dá lè mi ìran lê wá (Cantamos, cantamos para que traga sua força até nós que somos sua família)
Òsunmaré lè lê ma rì (Òsunmaré é poderoso)
Lè lê ma húwà ara ká (Ele pode enrolar o corpo com seu poder)
Lè lê ma rè Òsunmaré (Você é poderoso Òsunmaré)
Ko bé jijó (pedimos que dance indo até o chão)
Òsunmaré ko bé jijó (Òsunmaré, pedimos que dance indo até o chão)
Ara ká ko bé jijó (Pedimos que dance em torno de si mesma indo até o chão)
Lesse Orisà (Somos filhos de Orixá)
Lesse ko ma fò (Os filhos de Orixá mantém o chão sempre lavado)
Sá ro ho (Para que você possa dançar no chão e não se ferir)
Lesse Orisà (Somos filhos de Orixá)
Lesse ko ma fò (Os filhos de Orixá mantém o chão sempre lavado)
Sá ro ho (Para que você possa dançar no chão e não se ferir)
Òsunmaré ló ké rè Òsunmaré (Òsunmaré, cantamos para sua despedida
O ló ké rè (Cantamos para ele se despedir)
Òsunmaré se umbó (Òsunmaré está presente)
Se umbó (Está presente)
O se umbó (Ele está presente)
Wá là koró léhìn ni (Ele está escondido, venha para este lugar)
Wá là koró léhìn ni (Ele está escondido, venha para este lugar)
Òsunmaré ní fe run dá dán (Òsunmaré é uma luz brilhante que gostamos de ter)
Ní fé run dá dán (É uma luz brilhante que gostamos de ter)
O ba hàn si o kun (Mostre seu arco-íris e venha nos ajudar)
Àlejò, Àlejò (Venha nos visitar, venha nos visitar)
O ba hàn si o kun (Mostre seu arco-íris e venha nos ajudar)
Ba hàn, ba hàn si o kun (Mostre seu arco-íris e venha nos ajudar)
Suré, e suré (Nos abençoe, nos abençoe)
Ba hàn, ba hàn si o kun (Mostre seu arco-íris e venha nos ajudar)
Arò bó bò yí! Aké lè sí (Arò bó bò yí! Ele tem um machado para nos proteger)
O hun jé lè iko kun (Sua palha da costa é colorida (as cores representam seu poder)
U Vodun nos adó dé (Ele é Orixá e nos abençoa com adó (comida feita com pipoca e azeite doce)
Arò bó bò yí! Aké lè sí e u jé lè Vodun jé (Arò bó bò yí! Ele tem um machado para nos proteger e nos curvamos ao poder que tem esse Orixá)
E ara ká ló bó ro (Vosso corpo vai se enrolando até o chão)
Àwa dé wò (Nos curvamos para que nos abençoe)
Òsunmarè àwa dé wó (Osunmarè enrola o corpo e vai até o chão)
Vodun àwa dé wò (Curvamo-nos a este Orixá para que nos abençoe)
Òsunmarè o (Ele é Òsunmarè)
A ma rà ka lódódun (Uma vez ao ano nos curvamos)
Àtà te lówó (Na cumieira pedindo fartura para o ano todo)
Òsunmarè o (Para Òsunmarè)
A ma rà ka lódódun (Uma vez ao ano nos curvamos)
Àtà te lówó (Na cumieira pedindo fartura para o ano todo)
Òsunmarè o (Para Òsunmarè)
Òòni se wá (Orixá Rei da nação Yorubá venha nos ajudar)
Òòni se wá (Orixá Rei da nação Yorubá venha nos ajudar)
O dá bo (O Senhor nos orienta e nos ajuda)
Ajelé lù wè (Governador, venha nos consagrar)
Òrisà ta bè lò (Pedimos que nos ilumine)
Vodun tata un dé (Orixá chefe, cubra-nos)
E dan, dan, dan (Ele é uma serpente, serpente, serpente)
Jó árin da ji dan (Ele é uma serpente criada e dança e torno do asè.
VODUN DJEJE
Dangbé,O Dangbé é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.
Mawu é o Ser Supremo dos povos Ewe e Fon.
Lissá, que é masculino, e também co-responsável pela Criação.
Loko, É o primogênito dos voduns.dono da joia de mahi que e o rungbe
Gu, Vodun dos metais, guerra, fogo, e tecnologia.
Heviossô, Vodun que comanda os raios e relâmpagos.
Sakpatá, Vodun da varíola.
Dan, Vodun da riqueza, representado pela serpente do arco-íris.
Agué, Vodun da caça e protetor das florestas.
Agbê, Vodun dono dos mares.
Ayizan, Vodun feminino dona da crosta terrestre e dos mercados.
Agassu, Vodun que representa a linhagem real do Reino do Dahomey.
Aguê, Vodun que representa a terra firme.
Legba, O caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas e a sexualidade.
Fa , Vodun da adivinhação e do destino.
Aziri , vodun das águas doces.
Possun , vodun do po e da terra seca representado pelo tigre.
Bessem, É o dono das águas doces no Savalú, do qual é patrono.
Sogbô, Vodun do trovão da família de Heviossô.
Tobossi, Naê ou Mami Wata, são todas as Voduns femininas das ezins jeçuçu, jevivi e salobres.
Nanã, Vodun considera por todos os adeptos do Culto Vodun como a grande Mãe Universal.
Ritual
Na Nação Jeje existe a necessidade do poço (se não existir uma nascente nas terras), o ideal é um sítio com nascente, mata natural, plantas e animais.
Infelizmente nas casas urbanas isto já não é tão possível, pois as Casas cada vez mais diminuem de tamanho. Mas ainda assim toda casa Jeje deverá ter pelo menos um poço, um local reservado exclusivamente para as plantas e árvores necessárias ao culto, que chamamos "kpamahin", e alguns animais que são muito importantes para nós.
Voduns não usam roupas luxuosas não gostam de roupas de festa e geralmente preferem a boa e velha roupa de ração. As danças são cadenciadas em um ritmo mais denso e pesado. Os Voduns estão sempre de olhos abertos e salvo algumas exceções, conversam (usando preferencialmente um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura.
A iniciação ao culto dos voduns é complexa, longa e pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetidos à uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.
Dan Bessén é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. Se um dia Oxumaré perder suas forças o mundo acabará, porque o universo é dinâmico e a Terra também se encontra em constante movimento. Imaginem só o planeta Terra sem os movimentos de translação e rotação; imaginem uma estação do ano permanente, uma noite permanente, um dia permanente. É preciso que a Terra não deixe de se movimentar, que após o dia venha a noite, que as estações do não se alterem, que o vapor das águas suba aos céus e caia novamente sobre a Terra em forma de chuva. Oxumaré não pode ser esquecido, pois o fim dos ciclos é o fim do mundo.
Oxumaré mora no céu e vem à Terra visitar-nos através do arco-íris. Ele é uma grande cobra que envolve a Terra e o céu e assegura a unidade e a renovação do universo.
Filho de Nanã Buruku, Oxumaré é originário de Mahi, no antigo Daomé, onde é conhecido como Dan. Na região de Ifé é chamado de Ajé Sàlugá, aquele que proporciona a riqueza aos homens. Teria sido um dos companheiros de Odudua por ocasião de sua chegada a Ifé.
Dizem que Oxumaré seria homem e mulher, mas, na verdade, este é mais um ciclo que ele representa: o ciclo da vida, pois da junção entre masculino e feminino é que a vida se perpetua. Oxumaré é um Orixá masculino.
Oxumaré é um deus ambíguo, duplo, que pertence à água e à terra, que é macho e fêmea. Ele exprime a união de opostos, que se atraem e proporcionam a manutenção do universo e da vida. Sintetiza a duplicidade de todo o ser: mortal (no corpo) e imortal (no espírito). Oxumaré mostra a necessidade do movimento da transformação.
Omulú é o irmão mais velho de Oxumaré, mas foi abandonado por sua mãe por ter nascido com o corpo coberto de chagas. Em tempo, não se pode condenar Nanã por esse acto, já que era um costume, quase uma obrigação ritual da época, que se abandonassem as crianças nascidas com alguma deformidade. O deus do destino disse a Nanã que ela teria outro filho, belíssimo, tão bonito quanto o arco-íris, mas que jamais ficaria junto dela. Ele viveria no alto, percorreria o mundo sem parar. Nasceu Oxumaré.
Oxumaré que fica no céu
Controla a chuva que cai sobre a terra.
Chega à floresta e respira como o vento.
Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida.
Características dos filhos de Oxumaré
São pessoas que tendem à renovação e à mudança. Periodicamente mudam tudo na sua vida (de maneira radical): mudam de casa, de amigos, de religião, de emprego; vivem rompendo com o passado e buscando novas alternativas para o futuro, para cumprir seu ciclo de vida: mutável, incerto, de substituições constantes.
São magras. Como as cobras possuem olhos atentos, salientes, difíceis de encarar, mas ‘não enxergam’. São pessoas que se prendem a valores materiais e adoram ostentar suas riquezas; São orgulhosas, exibicionistas, mas também generosas e desprendidas quando se trata de ajudar alguém.
Extremamente activas e ágeis, estão sempre em movimento e acção, não podem parar.
São pessoas pacientes e obstinadas na luta pelos seus objectivos e não medem sacrifícios para alcançá-los. A dualidade do orixá também se manifesta nos seus filhos, principalmente no que se refere às guinadas que dão nas suas vidas, que chegam a ser de 180 graus, indo de um extremo a outro sem a menor dificuldade. Mudam de repente da água para o vinho, assim como Oxumaré, o Grande Deus do Movimento.
Regências :
DIA: Terça-feira
CORES: Amarelo e verde (ou preto) e todas as cores do arco-íris
SÍMBOLOS: Ebiri, serpente, círculo, bradjá.
ELEMENTOS: Céu e terra
DOMÍNIOS: Riqueza, vida longa, ciclos, movimentos constantes.
SAUDAÇÃO: Aho Boboi!!!
Terreiro criado há 157 anos é tombado em Cachoeira
O mais novo bem cachoeirano considerado Patrimônio Cultural do Brasil teve seu tombamento aprovado em 4 de dezembro do ano passado.
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, homologou o tombamento do Terreiro Zogbodo Male Bogun Seja Unde, localizado no município de Cachoeira, no Recôncavo baiano. Também conhecido como Roça do Ventura, o terreiro começou a ocupar o espaço em 1858, portanto, há 157 anos. O espaço é responsável pela preservação de uma das tradições religiosas de matriz africana, da liturgia do candomblé de nação jeje-mahi, originária nos cultos às divindades chamadas vodum.
O Seja Unde tem fundamental importância na formação da rede de terreiros do Recôncavo e para a formação do camdomblé como religião. A solicitação para o tombamento da casa de candomblé matricial de tradição jeje-mahi foi feita pela então presidente da Sociedade Religiosa Zogbodo Male Bogun Seja Unde, Alaíde Augusta da Conceição, a veneranda vodunce Alaíde de Oyá, em dezembro de 2008 e reiterada, em 2009, pelo atual presidente da Sociedade Religiosa Zogbodo Male Bogun Seja Unde e ogã da casa, Edvaldo de Jesus Conceição, o Buda.
O mais novo bem cachoeirano considerado Patrimônio Cultural do Brasil teve seu tombamento aprovado em 4 de dezembro do ano passado, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, reunido na sede do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Nacional (Iphan), em Brasília. A portaria com a homologação da decisão foi publicada ontem, no Diário Oficial da União.
O terreiro Zogbodo abrange um sítio natural e elementos edificados, além de árvores referenciais dos ritos do candomblé. As ‘árvores sagradas’ existentes no local são Nana, Tiriri, Ogum Eroquê, Avequité, Zogbo, Bessém, Ogum, Ajuzum, Lokó, Badé, Aqué e Parara.
Zezinho da Boa Viagem ( Meu Avô de Santo )
José Gomes de Lima, popularmente conhecido e respeitado por Pai Zézinho da Boa Viagem, foi iniciado no Candomblé pelas mãos de Tata Fomutinho em 26 de Julho de 1943,
para o Òrìsá Òsún, dando sua obrigação de sete anos em 14 de Outubro de 1961, fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes,
São João de Meriti, no Rio de Janeiro.
O Povo de Djeje perde um grande Sacerdote e um Ícone dentro das religiões de matriz africana. Lastimável perda para toda a família candomblecista!
Passaram vilas e cidades, cachoeiras e rios, bosques e florestas...
Zezinho da Boa Viagem
Veio a falecer em 21 de Março de 2011 por causa de uma parada cardíaca e falência múltipla dos órgãos em seu apartamento no bairro Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro.
Deixou inúmeros filhos de santo que perpetuam o axé Djedje Mahim, e que são expoentes e referência da religião em todo Brasil bem como: Mãe Ana Maria de Bessen (herdeira do axé), Doté Antônio D'Amaralina, Doté Luiz de Jagun (in memorian), Dotés Jorges de Odé, Ekedy Joyce d'Ogun, Doté Paulo de Odé, Doté Nelson de Logun, Doté Dirceu de Oxalá (in memorian), Ogã Alexandre Cobra, Carlos de Togbô, Ogã Adilson d'Oxalá, Doté Jorge d'Oxaguian, Doté Álvaro de Iansã, Doté Kamussengue (in memorian), Doté Luiz Sérgio d'Azansú, Ekedji Fly d'Osun, Pai Israel d'Averekety, Mãe Vilma de Obaluaiyé, Mãe Cristina d'Osun, Ogan Vagner de Ogun, Mãe Jurema de Bessen, Mãe Isabel de Odé, Ekedy Marcella de Osun, Doté Aluizio de Azansú, Doté ávio de Obaluwaye, Mãe Lurdes de Oxalufan,
Doté Gilberto de Legbára, ( meu pai de santo ) etc.
Os Orixás e a Natureza
Reginaldo Prandi
Universidade de São Paulo
Na aurora de sua civilização, o povo africano mais tarde conhecido pelo nome de iorubá, chamado de nagô no Brasil e lucumi em Cuba, acreditava que forças sobrenaturais impessoais, espíritos, ou entidades estavam presentes ou corporificados em objetos e forças da natureza. Tementes dos perigos da natureza que punham em risco constante a vida humana, perigos que eles não podiam controlar, esses antigos africanos ofereciam sacrifícios para aplacar a fúria dessas forças, doando sua própria comida como tributo que selava um pacto de submissão e proteção e que sedimenta as relações de lealdade e filiação entre os homens e os espíritos da natureza.
Muitos desses espíritos da natureza passaram a ser cultuados como divindades, mais tarde designadas orixás, detentoras do poder de governar aspectos do mundo natural, como o trovão, o raio e a fertilidade da terra, enquanto outros foram cultuados como guardiões de montanhas, cursos d'água, árvores e florestas. Cada rio, assim, tinha seu espírito próprio, com o qual se confundia, construindo-se em suas margens os locais de adoração, nada mais que o sítio onde eram deixadas as oferendas. Um rio pode correr calmamente pelas planícies ou precipita-se em quedas e corredeiras, oferecer calma travessia a vau, mas também mostra-se pleno de traiçoeiras armadilhas, ser uma benfazeja fonte de alimentação piscosa, mas igualmente afogar em suas águas os que nelas se banham. Esses atributos do rio, que o torna ao mesmo tempo provedor e destruidor, passaram a ser também o de sua divindade guardiã. Como cada rio é diferente, seu espírito, sua alma, também tem características específicas. Muitos dos espíritos dos rios são homenageados até hoje, tanto na África, em território iorubá, como nas Américas, para onde o culto foi trazido pelos negros durante a escravidão e num curto período após a abolição, embora tenham, com o passar do tempo, se tornado independentes de sua base original na natureza. São eles Iemanjá, divindade do rio Ogum, Oiá ou Iansã, deusa do rio Níger, assim como Oxum, Obá, Euá, Logum Edé, Erinlé e Otim, cujos rios conservam ainda hoje o mesmo nome de sua divindade. No Brasil, assim como em Cuba, Iemanjá ganhou o patronato do mar, que na África pertencia a Olocum, enquanto os demais orixás de rio deixaram de estar referidos a seus cursos d'água originais, ganhando novos domínios, cabendo a Oxum o governo dos rios em geral e de todas as águas doces.
A economia desses povos desenvolveu-se com base na agricultura, caça, pesca e artesanato, com intensa e importante atividade comercial concentrada nos mercados das cidades, para onde acorria a produção das diferentes aldeias e cidades. Podemos ver nessa sociedade em formação um deslocamento dos orixás do plano dos fenômenos da natureza para o plano da divisão social do trabalho, assumindo os orixás a característica de guardiões de atividades essenciais para a vida em sociedade. O culto às divindades continuou sendo local, podendo a mesma atividade ser guardada por deuses locais distintos. Só muito mais tarde alguns orixás foram elevados à categoria de orixás nacionais. Assim, na agricultura encontramos o culto a Ogum e Orixá-Ocô, enquanto as atividades de caça estavam guardadas por Oxóssi, Logum Edé, Erinlé, e muitos outros orixás caçadores conhecidos genericamente pelo nome de Odé, que significa Caçador. No Brasil, onde a geografia africana deixou de ter sentido, alguns orixás de rio, como Logum e Erinlé, ficaram restritos à caça, embora se faça referência também a seus atributos de pescadores, especialmente no caso de Logum Edé.
No caso de Ogum, há uma relação direta entre a agricultura e o artesanato do ferro, que permitiu a produção das ferramentas agrícolas, o mesmo ferro com que se fazem as armas de guerra, faca, facão, espada, e que transformou Ogum no deus da metalurgia e da guerra, numa emblemática expansão de um culto que se iniciou em referência ao plano da natureza (o ferro) para depois se fixar no domínio das atividades humanas (agricultura, metalurgia, guerra). A importância do minério extraído da natureza define-se por sua aplicação na cultura e leva à constituição de um culto que ao mesmo tempo deseja propiciar as forças sobrenaturais para garantir o acesso ao minério e o sucesso nas atividades que usam artefatos com ele produzidos. Quanto mais o trabalho se especializava, mais o orixá se liberava do mundo natural e mais próximo se situava do mundo do trabalho, isto é, do mundo da cultura, das atividades sociais, do mundo do homem, enfim.
A antiga religião de caráter animista, ou seja, de crença de que cada objeto do mundo em que vivemos é dotado de um espírito, em algum momento primordial fundiu-se-se com o culto dos antepassados. Podemos definir o culto dos antepassados como o conjunto de crenças, mitos e ritos que regulam os vínculos de uma comunidade com um número grande de mortos que viveram nessa comunidade e que estão ligados a ela por parentesco, segundo linhagens familiares, acreditando-se que os mortos têm o poder de interferir na vida humana, devendo então ser propiciados, aplacados por meio das práticas sacrificiais para o bem-estar da comunidade. Através do sacrifício, o antepassado participa da vida dos viventes, compartilhando com eles o fruto do sucesso das colheitas, das caçadas, da guerra e assim por diante. Embora todo morto mereça respeito e sacrifício, são os mortos ilustres os que se colocam no centro do culto. São os fundadores das antigas linhagens familiares, os heróis conquistadores, fundadores de cidades, o que inclui os falecidos pertencentes à família real, especialmente o rei. Alguns antepassados, sobretudo os de famílias e cidades que lograram expandir seu poder e seu domínio além de seus muros, acabaram sendo hevemerizados, isto é, deificados, ocupando no universo religioso o mesmo status de um orixá da natureza, muitas vezes confundindo-se com eles. Assim, Xangô é ao mesmo tempo o orixá do trovão, que rege as intempéries, e o antepassado mítico hevemerizado que um dia teria sido o quarto rei da cidade de Oió. Como rei, é o regulador das atividades ligadas ao governo do mundo profano, do qual é o magistrado máximo, assumindo assim, o patronato da justiça. Muitos reis, míticos ou não, foram alçados à dignidade de orixá. Por outro lado, muitos orixás que já mereciam culto ganharam também a conotação de antepassado, especialmente como reis. Como ocorreu com Ogum, lembrado como rei de Irê e Oxaguiã, rei de Ejibô, entre outros.
Confrarias de sacerdotes especializados também se organizaram em função de divindades relacionadas a atividades mágico-religiosas específicas, como os adivinhadores ou babalaôs, reunidos no culto de Orunmilá ou Ifá, o deus do oráculo, e os curadores herbalistas, ou olossains, dedicados a Ossaim, o orixá que detém o poder curativo das plantas. Tanto Orunmilá como Ossaim tiveram culto nacional em território iorubá, uma vez que seus sacerdotes ofereciam seus serviços a todos os que deles precisassem, não estando suas atividades circunscritas aos cultos familiares ou de cidades. Exu, orixá do mercado e da comunicação entre os deuses e entre estes e os humanos, também ganhou culto sem fronteiras familiares ou citadinas. Com a expansão política de algumas cidades e a incorporação de outros territórios, deuses locais passaram a ter um culto mais generalizado, o que transformou Xangô num deus cultuado em todo o território controlado por Oió, que teve o maior dos impérios iorubás. Iemanjá, originalmente uma divindade ebgá de rio, cultuada em território de Abeocutá, transformou-se em objeto do culto às ancestrais femininas, sendo homenageada no início dos festejos dedicados às grandes mães ancestrais no festival Geledé, cuja celebração envolve várias cidades.
Através da instituição do culto aos antepassados, os antigos iorubás estabeleceram as bases míticas de sua própria origem como povo, deificando seus mais antigos heróis, fundadores de cidades e impérios, aos quais se atribuiu a criação não somente do povo iorubá como de toda a humanidade. Dá-se assim a gênese do orixá Odudua, rei e guerreiro, considerado o criador da Terra, e de Obatalá, também chamado Orixanlá e Oxalá, o criador da humanidade, além de muitos outros deuses que com eles fazem parte do panteão da criação, como Ajalá e Oxaguiã.
O contato entre os povos africanos, tanto em razão de intercâmbio comercial como por causa das guerras e domínio de uns sobre outros, propiciou a incorporação pelos iorubás de divindades de povos vizinhos, como os voduns dos povos fons, chamados jejes no Brasil, entre os quais se destaca Nanã, antiga divindade da terra, e Oxumarê, divindade do arco-íris. O deus da peste, que recebe os nomes de Omulu, Olu Odo, Obaluaê, Ainon, Sakpatá e Xamponã ou Xapanã, resultou da fusão da devoção a inúmeros deuses cultuados em territórios iorubá, fon e nupe. As transformações sofridas pelo deus da varíola, descritas por Claude Lépine (1998), até sua incorporação ao panteão contemporâneo dos orixás, mostra a importância das migrações e das guerras de dominação na vida desses povos africanos e seu papel na constituição de cultos e conformação de divindades.
Quanto mais os orixás foram se afastando da natureza, mais foram ganhando forma antropomórfica. Os mitos falam de deuses que pensam e agem como os humanos, com os quais partilham sentimentos, propósitos, comportamentos e emoções. Seus patronatos especializaram-se em aspectos da cultura e da vida em sociedade que melhor atendiam às necessidades individuais dos seus devotos, embora possam manter referências ao original mundo natural.
II
Com a vinda para as Américas, ao processo de antropormofização e mudança ou diversificação do patronato adicionou-se a unificação do panteão, passando orixás de diferentes localidades a ser cultuados juntos nos mesmos locais de culto, no caso do Brasil, os terreiros de candomblé, ocorrendo mais forte especialização na divisão do trabalho dos deuses guardiões. Assim, Iemanjá, agora rainha do mar, é a protetora da maternidade e do equilíbrio mental; Oxum ganha as águas doces e a prerrogativa de governar a fertilidade humana e o amor; Ogum governa o ferro e a guerra, mas também é aquele que abre todos os caminhos e oportunidades sociais; Xangô, orixá do trovão, é o dono da justiça. E assim por diante. Como a religião dos orixás foi refeita no Brasil por africanos ou descendentes que, no século XIX, viviam nas grandes cidades costeiras, ocupando-se em atividades urbanas, fossem eles escravos ou livres, a preocupação com atividades agrícolas era muito secundária, de sorte que os orixás do campo foram esquecidos ou tiveram seus governos reorganizados. O culto a Orixá-Ocô se perdeu e hoje raramente alguém se lembra de Ogum como orixá do campo. Também os orixás da caça perderam com a nova sociedade. Oxóssi ganhou a responsabilidade de zelar pela fartura de alimentos, mas não há mais caçadores para cultuá-lo e muitos Odés foram reagrupados no culto de Oxóssi, como ocorreu com Erinlé e Otim. O grande papel de Oxóssi no Brasil na verdade decorre de sua condição de patrono da nação queto, instituída com a fundação dos candomblés baianos Casa Branca do Engenho Velho, Gantois e Axé Opô Afonjá, e que é uma referência à cidade africana de Queto, hoje situada no Benin, da qual Oxóssi era o orixá da casa real e onde atualmente está praticamente esquecido. Mudanças recentes nas condições de vida, inclusive em termos de saúde pública, fizeram de Omulu o médico dos pobres brasileiros, mas hoje ele está longe de ser cultuado por causa da varíola, seu domínio original, praticamente eliminada em nossa sociedade.
No Brasil, com a concentração do culto aos orixás nos terreiros, sob a autoridade suprema do pai ou mãe-de-santo, antigas confrarias africanas especializadas desapareceram, uma vez que o pai-de-santo passou a controlar toda e qualquer atividade religiosa desenvolvida nos limites de sua comunidade de culto. Os orixás dessas confrarias foram esquecidos ou se transformaram. Assim, com a extinção dos babalaôs, os sacerdotes do oráculo, o culto a Orunmilá praticamente desapareceu, subsistindo marginalmente em alguns poucos terreiros pernambucanos. O oráculo, agora prerrogativa do chefe de cada terreiro passou a ser guardado por Exu e Oxum, que na África já eram estreitamente ligados às atividades de adivinhação. A confraria dos curadores herbalistas, os olossains, também não se manteve nos moldes africanos, ficando os olossains restritos às atribuições de colher folhas e cantar para sua sacralização, tendo perdido para o pai-de-santo as prerrogativas do curador. Em decorrência, o culto de Ossaim ganhou novas feições, ficando mais assemelhado ao culto dos outros orixás celebrados nos terreiros, podendo inclusive ser recebido em transe como os demais, o que não acontecia na África. Espíritos das velhas árvores foram antropormofizados e iroco, que na África é simplesmente o nome de uma grande árvore, aqui se transformou no orixá Iroco, que recebe oferendas na cameleira branca e desce em transe, ganhando, cada vez mais, independência em relação à árvore, situando-se, por conseguinte, mais longe da natureza.
O desenvolvimento científico e tecnológico, ao promover a expansão do controle da natureza pelo homem, controle que vai desde a previsão das intempéries e catástrofes naturais até a obtenção da fecundação in vitro, passando pela cura da maioria das moléstias, garantindo a redução das taxas de mortalidade infantil, afastando as endemias e epidemias, aumentando a esperança de vida, tudo isso foi desviando cada vez mais o olhar do homem religioso da natureza, uma vez que esta já o preocupa menos, representando menos riscos, menos perigo. Diferentes povos tiveram diferentes preocupações com a natureza. Os iorubás, como povo da floresta, pouco se interessaram pelos astros, que ocuparam posição importante nos sistemas religiosos de povos que viviam em lugares abertos e altos. Para os iorubás, as florestas e os rios eram mais importantes que a lua ou as estrelas. Sua semana de quatro dias não tem relação com as fases da lua, que em muitos povos originou a semana de sete dias. Habitando o interior, longe do mar, lhes faltou certamente a observação da maré associada às fases da lua para estabelecer um calendário lunar. A morada dos deuses e dos espíritos dos iorubás, emblematicamente, não fica no céu, mas sob a superfície da terra.
No Brasil, as referências à natureza foram, contudo, simbolicamente mantidas nos altares sacrificiais, que são os assentamentos dos orixás e em muitos outros elementos rituais. Desse modo, como a África, seixos provenientes de algum curso d'água não podem faltar no assentamento dos orixás de rio, confundindo-se as pedras com os próprios orixás. Pedaços de meteoritos, as pedras de raio do assento de Xangô, lembram a identificação deste orixá com o raio e o trovão. Objetos de ferro são usados para o assentamento de Ogum. E assim por diante. O candomblé também conserva a idéia de que as plantas são fonte de axé, a força vital sem a qual não existe vida ou movimento e sem a qual o culto não pode ser realizado. A máxima iorubá "kosi ewê kosi orixá", que pode ser traduzida por "não se pode cultuar orixás sem usar as folhas", define bem o papel das plantas nos ritos. As plantas são usadas para lavar e sacralizar os objetos rituais, para purificar a cabeça e o corpo dos sacerdotes nas etapas iniciáticas, para curar as doenças e afastar males de todas as origens. Mas a folha ritual não é simplesmente a que está na natureza, mas aquela que sofre o poder transformador operado pela intervenção de Ossaim, cujas rezas e encantamentos proferidos pelo devoto propiciam a liberação do axé nelas contido. Há algumas décadas a floresta fazia parte do cenário do terreiro de candomblé e as folhas estavam todas disponíveis para colheita e sacralização. Com a urbanização, o mato rareou nas cidades, obrigando os devotos a manter pequenos jardins e hortas para o cultivo das ervas sagradas ou então se deslocar para sítios afastados, onde as plantas podem crescer livremente. Com o passar do tempo, novas especializações foram surgindo no âmbito da religião e hoje as plantas rituais podem ser adquiridas em feiras comuns de abastecimento e nos estabelecimentos que comercializam material de culto. Exemplo maior, no Mercadão de Madureira, no subúrbio do Rio de Janeiro, pródigo na oferta de objetos rituais, vestimentas e ingredientes para o culto dos orixás, mais de vinte estabelecimentos vendem, exclusivamente, toda e qualquer folha necessária aos ritos de Ossaim. Bem longe da natureza.
Embora a concepção de orixá esteja hoje bem distante da natureza, muitas celebrações se fazem em locais que lembram as antigas ligações, como as festas de Iemanjá junto ao mar, como os depachos feitos na água corrente, na lagoa, no mato, na pedreira, na estrada etc., de acordo com o orixá a que se destinam. Com a recente preocupação com o meio ambiente, o candomblé tem sido muito lembrado como religião da natureza, apontando-se muitos terreiros como modelares na preservação ambiental. Alguns líderes, de fato, tem procurado se engajar em movimentos preservacionistas, alertando os seguidores dos orixás da necessidade de se defender da poluição ambiental locais usados pela religião, como cachoeiras e fontes, lagos e bosques. Alguns defendem a necessidade do próprio candomblé deixar de usar nas oferendas feitas fora do terreiro e nos despachos material não biodegradável.
III
Nesse clima de "retorno ao mundo natural", de preocupação com a ecologia, um orixá quase inteiramente esquecido no Brasil vem sendo aos poucos recuparado. Trata-se de Onilé, a Dona da Terra, o orixá que representa nosso planeta como um todo, o mundo em que vivemos. O mito de Onilé pode ser encontrado em vários poemas do oráculo de Ifá, estando vivo ainda hoje, no Brasil, na memória de seguidores do candomblé iniciados há muitas décadas. Assim a mitologia dos orixás nos conta como Onilé ganhou o governo do planeta Terra:
Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare.
Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via.
Quase nem se sabia de sua existência.
Quando os orixás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai
para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões,
Onilé fazia um buraco no chão e se escondia,
pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa,
com muita música e dança ao ritmo dos atabaques.
Onilé não se sentia bem no meio dos outros.
Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem:
haveria uma grande reunião no palácio
e os orixás deviam comparecer ricamente vestidos,
pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo
e depois haveria muita comida, música e dança.
Por todo os lugares os mensageiros gritaram esta ordem
e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento.
Quando chegou por fim o grande dia,
cada orixá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação,
cada um mais belamente vestido que o outro,
pois este era o desejo de Olodumare.
Iemanjá chegou vestida com a espuma do mar,
os braços ornados de pulseiras de algas marinhas,
a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas,
o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola.
Oxóssi escolheu uma túnica de ramos macios,
enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais.
Ossaim vestiu-se com um manto de folhas perfumadas.
Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante,
enfeitada com tenras folhas de palmeira.
Oxum escolheu cobrir-se de ouro,
trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios.
As roupas de Oxumarê mostravam todas as cores,
trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva.
Iansã escolheu para vestir-se um sibilante vento
e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade.
Xangô não fez por menos e cobriu-se com o trovão.
Oxalá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão
e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio.
E assim por diante.
Não houve quem não usasse toda a criatividade
para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita.
Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo.
Cada orixá que chegava ao palácio de Olodumare
provocava um clamor de admiração,
que se ouvia por todas as terras existentes.
Os orixás encantaram o mundo com suas vestes.
Menos Onilé.
Onilé não se preocupou em vestir-se bem.
Onilé não se interessou por nada.
Onilé não se mostrou para ninguém.
Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão.
Quando todos os orixás haviam chegado,
Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente,
sentados em esteiras dispostas ao redor do trono.
Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos.
Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo
e que estavam tão bonitos que ele não saberia
escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo.
Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles,
mas nem sabia como começar a distribuição.
Então disse Olodumare que os próprios filhos,
ao escolherem o que achavam o melhor da natureza,
para com aquela riqueza se apresentar perante o pai,
eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo.
Então Iemanjá ficava com o mar,
Oxum com o ouro e os rios.
A Oxóssi deu as matas e todos os seus bichos,
reservando as folhas para Ossaim.
Deu a Iansã o raio e a Xangô o trovão.
Fez Oxalá dono de tudo que é branco e puro,
de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação.
Destinou a Oxumarê o arco-íris e a chuva.
A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele,
inclusive a guerra.
E assim por diante.
Deu a cada orixá um pedaço do mundo,
uma parte da natureza, um governo particular.
Dividiu de acordo com o gosto de cada um.
E disse que a partir de então cada um seria o dono
e governador daquela parte da natureza.
Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade
relacionada com uma daquelas partes da natureza,
deveria pagar uma prenda ao orixá que a possuísse.
Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa
que fosse da predileção do orixá.
Os orixás, que tudo ouviram em silêncio,
começaram a gritar e a dançar de alegria,
fazendo um grande alarido na corte.
Olodumare pediu silêncio,
ainda não havia terminado.
Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições.
Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra,
o mundo no qual os humanos viviam
e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais
que deveriam ofertar aos orixás.
Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra.
Quem seria? perguntavam-se todos?
"Onilé", respondeu Olodumare.
"Onilé?" todos se espantaram.
Como, se ela nem sequer viera à grande reunião?
Nenhum dos presentes a vira até então.
Nenhum sequer notara sua ausência.
"Pois Onilé está entre nós", disse Olodumare
e mandou que todos olhassem no fundo da cova,
onde se abrigava, vestida de terra, a discreta e recatada filha.
Ali estava Onilé, em sua roupa de terra.
Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta.
Olodumare disse que cada um que habitava a Terra
pagasse tributo a Onilé,
pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa.
A humanidade não sobreviveria sem Onilé.
Afinal, onde ficava cada uma das riquezas
que Olodumare partilhara com filhos orixás?
"Tudo está na Terra", disse Olodumare.
"O mar e os rios, o ferro e o ouro,
Os animais e as plantas, tudo", continuou.
"Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris,
tudo existe porque a Terra existe,
assim como as coisas criadas para controlar os homens
e os outros seres vivos que habitam o planeta,
como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte".
Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé,
foi a sentença final de Olodumare.
Onilé, orixá da Terra, receberia mais presentes que os outros,
pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos,
pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem.
Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre,
para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído.
Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare.
Todos os orixás aclamaram Onilé.
Todos os humanos propiciaram a mãe Terra.
E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orixás[1].
Cultuada discretamente em terreiros antigos da Bahia e em candomblés africanizados, a Mãe Terra desperta curiosidade e interesse entre os seguidores dos orixás, sobretudo entre aqueles que compõem os seguimentos mais intelectualizados da religião. Onilé é assentada num montículo de terra vermelha e acredita-se que guarda o planeta e tudo que há sobre ele, protegendo o mundo em que vivemos e possibilitando a própria vida. Na África, também é chamada Aiê e Ilê, recebendo em sacrifício galinhas, caracóis e tartarugas (Abimbola, 1977: 111). Onilé, isto é, a Terra, tem muitos inimigos que a exploram e podem destruí-la. Para muitos seguidores da religião dos orixás, interessados em recuperar a relação orixá-natureza, o culto de Onilé representaria, assim, a preocupação com a preservação da própria humanidade e de tudo que há em seu mundo.
Referências bibliográficas
ABIMBOLA, Wande. Ifá Divination Poetry. Nova York, Londres e Ibadan, Nok Publishers, 1977.
Ifá Will Mend our Broken World: Thoughts on Yoruba Religion and Culture in Africa and the Diaspora. Roxbury, Massachusetts, Aim Books, 1997.
LÉPINE, Claude. As metamorfoses de Sakpatá, deus da varíola. In: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (org.). Leopardo dos olhos de fogo. São Paulo, Ateliê Editorial, 1998.
[1] Narrado pelo oluô Agenor Miranda Rocha, em pesquisa de campo no Rio de Janeiro, em 1999. Fragmentos em Wande Abimbola, 1977, pp. 111; 1997, pp. 67-68. In: Reginaldo Prandi, Mitologia dos orixás. São Paulo, USP, 1999, inédito.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
A História das Casas de Santo do Candomblé no Brasil
Casa Branca-Engenho Velho
O Terreiro
Sacerdotisas
- Iyá Nassô
- Marcelina da Silva (não conseguimos dados quem os tiver envie para sergiocigano @sergiocigano.com.br )
- Maria Julia Figueiredo
- Ursulina de Figueiredo
- Maximiana Maria da Conceição
- Maria Deolinda
- Marieta Vitória Cardoso
- Altamira Cecília dos Santos
Sociedade Beneficente e Recreativa
Calendário de festas
As Águas de Oxalá
Terreiro do Gantois
Opó Afonjá
Ilê Axé Opó Afonjá , Centro Cruz Santa do Axé do Opó Afonjá , fundada em 1910, localizada na Estrada de São Gonçalo do Retiro, Salvador , Bahia
Terreiro Opo Afonjá
Candomblé Jeje
Terreiro do Bogum
- templo para Dan; Kwé Cejá Hundé, mais conhecido como a Roça do Ventura ou KPó Zehen (pó zerrêm) ou ainda "Zogbodo Male Gbogun seja Unde" em Cachoeira;
- templo para Heviossô Zoogodo Bogun Male Hundô Terreiro do Bogum em Salvador;
- E o templo para Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado. Esse é o segmento Jeje Mahi do povo Fon.
- Tixareme (Fundador)
- Ludovina Pessoa (Fundadora)
- Gayakú Ogorenssi,
- Gayakú Abali,
- Gayakú Pararassi,
- Gayakú Aguéssi, Elisa Gonçalves, dona da terra.
- Gayakú Gamo Lokosse que foi escolhida por Sinhá Pararassi para ser a herdeira do trono.
- Gayakú Alda de Oyá - (Fomo Oiassy) atual sucessora.
Fundação Cultural Palmares
A Fundação Cultural Palmares tentou entrar em contato com os herdeiros da Goméia para entrevistá-los, porém não foi possível devido a condição de saúde de Gitadê, a viagem de Mãe Lúcia à Portugal e a localização de Ceci Caxi.