sexta-feira, 29 de julho de 2016

A Runas da Escandinávia

Runemal era a arte do uso de alfabetos rúnicos para obter respostas, como um oráculo, instrumento usado pelos iniciados nesta arte desde o pré-cristianismo para o auto-conhecimento. Arte denominada de pagã pelo cristianismo.

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 As runas são letras características, usadas para escrever nas línguas germânicas da Europa do Norte, principalmente na Escandinávia, ilhas Britânicas e Alemanha (regiões habitadas pelos povos germânicos) desde o séc. II até ao séc. XI. Estes caracteres têm sido encontrados em pedras rúnicas, e em menor número em ossos e peças de madeira, assim como em pergaminhos e placas metálicas. As inscrições rúnicas mais antigas datam de cerca do ano 150. O alfabeto rúnico foi sucessivamente substituído pelo alfabeto latino, com o avanço do cristianismo na Europa central, no século VI, e na Escandinávia, no século XI. O alfabeto rúnico germânico primitivo tinha 24 runas, e era usado na Alemanha, Dinamarca e Suécia, desde a época inicial. A versão escandinava, com 16 carateres, conhecida como Futhark (derivado das suas primeiras seis letras: 'F', 'U' 'Th', 'A', 'R', e 'K'), foi usada na Dinamarca, Suécia e Noruega, do séc. IX até à Idade Média. A versão anglo-saxónica, com 28 carateres, é conhecida como Futhorc (um nome também com origem nas primeiras letras deste alfabeto).

Escreva seu nome em Runas e descubra o seu significado

Contudo, o uso de runas persistiu para propósitos especializados, principalmente na Escandinávia, na área rural da Suécia até ao início do século XX (usado principalmente para decoração e em calendários rúnicos). Além do alfabeto, a cultura germânica antiga possuía um calendário, cujo ano se iniciava no dia 29 de Junho, representado pela runa Feob. Contam as lendas vikings que os deuses moravam em Asgard, um lugar localizado no topo de Yggdrasil, a Árvore que sustenta os nove mundos. Nesta árvore, o deus Odin conheceu a sua maior provação e descobriu o mistério da sabedoria: as Runas. Alguns versos do Edda Maior, um livro de poemas compostos entre os séculos IX e XIII, contam esta aventura de Odin em algumas de suas estrofes:
"Sei que fiquei pendurado naquela árvore fustigada pelo vento, Lá balancei por nove longas noites, Ferido por minha própria lâmina, sacrificado a Odin, Eu em oferenda a mim mesmo: Amarrado à árvore De raízes desconhecidas. Ninguém me deu pão, Ninguém me deu de beber. Meus olhos se voltaram para as mais entranháveis profundezas, Até que vi as Runas. Com um grito ensurdecedor peguei-as, E, então, tão fraco estava que caí. Ganhei bem-estar E sabedoria também. Uma palavra, e depois a seguinte, conduziram-me à terceira, De um feito para outro feito."
Esta é a criação mítica das Runas, na qual o sacrifício de Odin (que logo depois foi ressuscitado por magia) trouxe para a humanidade essa escrita alfabética antiga, cujas letras possuíam nomes significativos e sons também significativos, e que eram utilizadas na poesia, nas inscrições e nas adivinhações, mas que nunca chegaram a ser uma língua falada. Pedra rúnica A Pedra de Gripsholm.


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 A Pedra de Gårdstånga. Uma pedra rúnica – em sueco runsten, em dinamarquês runesten e em norueguês runestein – é uma pedra erguida, contendo inscrições em caracteres rúnicos. São conhecidas cerca de 6000 inscrições com caráteres rúnicos nas regiões habitadas por povos germânicos. Das pedras rúnicas achadas na Escandinávia, umas 2 500 foram encontradas na Suécia (em particular na região da Uppland e do Vale do Mälaren), umas 500 na Noruega, umas 200 na Dinamarca, umas 50 na Islândia, e nenhuma na Finlândia. Estas pedras estão datadas principalmente para os séculos X e XI - nos tempos da Era viking, embora haja exemplares do séc. IV até ao séc. XII. Em geral, as pedras rúnicas eram colocadas em locais bem visíveis, como caminhos, pontes e portos, e assinalavam a morte de homens importantes, podendo por vezes ser decoradas com certos motivos típicos.

Lingsberg

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 A Bíblia da linguagem Rúnica

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Canto Rúnico a Odin - Edda

"Encontrarás nas runas,Símbolos mágicos, Bons, fortes e poderosos,Como assim os quis o Senhor da Magia, Como os fizeram os Deuses propícios, Como os gravou o Príncipe dos Sábios."

O alfabeto rúnico, ou Futhark, recebe o nome de suas primeiras seis letras (f, u, th, a, r, k), muito parecido com a palavra "alfabeto" deriva das duas primeiras letras do alfabeto grego, alfa e beta . Cada runa não só representa um som fonético, mas também tem o seu próprio significado distinto, muitas vezes ligado com a mitologia nórdica. Os estudiosos acreditam que os povos germânicos e escandinavos início usado as runas originalmente como um meio de comunicação e só mais tarde para fins mágicos.

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Fehu

Fehu pode significar gado, ouro, ou riqueza em geral.

Uruz

Uruz representa a força, velocidade e boa saúde.

Thurisaz

Thurisaz refere-se aos gigantes da mitologia nórdica.

Ansuz

Ansuz poderia se referir a qualquer divindade, mas foi mais frequentemente associada com Odin.

Raido

Provavelmente uma runa importante para os Vikings, Raido significou uma longa viagem.

Kenaz

Cenez representa uma tocha ou alguma outra fonte de luz.

Gebo

Gebo foi utilizada para designar um sacrifício aos deuses.

Wunjo

Wunjo pode traduzir como conforto, alegria ou glória.

Hagalaz

Hagalaz é a runa para granizo, quer em termos de tempo ou a projéteis vindos no campo de batalha.

Nauthiz

Nauthiz significa necessidade ou necessidade.

Isa

Isa significa gelo.

Jera

Jera traduz como ano ou colheita.

Eithwaz

Eithwaz é a runa para teixo, uma árvore sagrada usada para fazer varinhas de runas.

Perth

O significado e / ou tradução de Perth permanece desconhecida.

Algiz

Algiz denotado defesa, proteção, ou de auto-preservação.

Sowilo

Sowilo representou o sol, um elemento importante na adoração pagã.

Tiwaz

A runa do deus da guerra Tyr, Tiwaz foi muitas vezes esculpido em armamento.

Berkano

Berkano foi associada com a árvore de vidoeiro, com Idun, deusa da primavera, e com a fertilidade.

Ehwaz

Ehwaz é a runa para o cavalo.

Mannaz

Mannaz significa homem ou a humanidade.

Laguz

Laguz está associada com água.

Ingwaz

Ingwaz pode se referir tanto ao herói dinamarquês Ing ou para os dinamarqueses em geral.

Dagaz

Dagaz é a runa para o dia ou a luz do dia.

Othila

Othila significa herança ou a transmissão de bens ou conhecimento.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Lenda dos Orixás - Xango - Xangô é reconhecido por Aganju como seu filho legítimo



Aganju era pai de Xangô, 
mas não se conheciam. 
Aganju era tão temido e respeitado 
que deixava a porta de casa sempre aberta 
e ninguém jamais se atrevera a entrar. 
Aganju tinha a casa sempre abarrotada de frutas,
pois o rio, as terras e as grandes savanas lhe pertenciam. 
Um dia, Xangô entrou na casa de Aganju, 
comeu de tudo, se fartou 
e depois deitou para dormir na esteira de Aganju. 

Quando Aganju chegou, 
encontrou aquele negro atrevido 
descansando na maior tranqüilidade. 
Aganju fez uma fogueira e atirou Xangô ao fogo. 
Mas o fogo Xangô não queimava. 
Como iria se queimar se ele próprio era o fogo? 
Então, Aganju tomou Xangô em seus ombros 
e o levou até o mar para afogá-lo. 
Do mar saiu Iemanjá Conlá, a mãe de Xangô. 
Iemanjá intercedeu: 
“O que estás fazendo, Aganju? 
Não podes matar nosso filho”. 
Aganju olhou admirado para Xangô 
e se deu conta de como eram parecidos. 
O filho era tal qual o pai. E disse: 
“Eu, Aganju, sou o homem mais valente e bravo. 
Mais valente e bravo em todo o mundo. 
Tu, Xangô, és tão valente e bravo quanto eu. 
Estou certo de que és realmente filho meu”. 
E eles cantaram e dançaram em regozijo. 


[Notas Bibliográficas e Comentários] 

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 247 e 248. Originalmente encontrado e/ou transcrito de Samuel Feijoo, 1986, pp. 259-60; Natalia aróstegui, 1994 (a), p. 296. Em outra versão, a mãe de Xangô é Obatalá, que em Cuba pode ser masculino ou feminino: Harold Coulander, 1973, pp. 220-1.
Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

Lenda dos Orixás - Obá - Obá é possuída por Ogum



Obá escolheu a guerra como prazer nesta vida.
Enfrentava qualquer situação.
e assim procedeu com quase todos os orixás.
Um dia, Obá desafiou para a luta Ogum, o valente guerreiro.
O ardiloso Ogum, sabendo dos feitos de Obá, consultou os babalaôs.
Eles aconselharam Ogum
A fazer oferendas de espigas de milho e quiabos,
Tudo pilado, formando uma massa viscosa e escorregadia.
Ogum preparou tudo como foi recomendado
e depositou o ebó num canto do lugar onde lutariam.
Chegada a hora, Obá, em tom desafiador, começou a dominar a luta.
Ogum levou-a ao local onde estava a oferenda.
Obá pisou no ebó, escorregou e caiu.
Ogum aproveitou-se da queda de Obá,
num lance rápido tirou-lhe os panos
e a possuiu ali mesmo, tornando-se, assim, seu primeiro homem.
Mais tarde Xangô roubou Obá de Ogum.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, pág 314. Originalmente encontrado e/ou transcrito de Pierre Verger, 1985, p. 40; Agenor Miranda Rocha, 1994, PP. 80-1.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

Lenda dos Orixás - Oxossi - Oxóssi mata o pássaro das feiticeiras




Todos os anos, para comemorar a colheita dos inhames,
O rei de Ifé oferecia aos súditos uma grande festa.
Naquele ano, a cerimônia transcorria normalmente,
quando um passar de grandes asas pousou no telhado do palácio.
O pássaro era monstruoso e aterrador.
O povo, assustado, perguntava sobre sua origem.
A ave fora enviada pelas feiticeiras,
as Iá Mi Oxorongá, nossas mães feiticeiras,
ofendidas por não terem sido convidadas.
O pássaro ameaçava o desenrolar das comemorações,
o povo corria atemorizado.
E o rei chamou os melhores caçadores do reino para abater a grande ave.
De Idô, veio Oxotogum com suas vinte flechas.
De Morê, veio Oxotogi com suas quarenta flechas.
De Ilarê, veio Oxotadotá com suas cinqüentas flechas.
Prometeram ao rei acabar com o perverso bicho,
Ou perderiam suas próprias vidas.
Nada conseguiram, entretanto, os três odes.
Gastaram suas flechas e fracassaram.
Foram presos por ordem do rei.
Finalmente, de Irém, veio Oxotocanxoxô,
o caçador de uma só flecha.
Se fracassasse, seria executado
junto com os que o antecederam.
Temendo pela vida do filho,
a mãe do caçador foi ao babalaô
e ele recomendou à mãe desesperada
fazer um ebó que agradasse às feiticeiras.
A mãe de Oxotocanxoxô sacrificou então uma galinha.
Nesse momento, Oxotocanxoxô tomou seu ofá, seu arco,
apontou atentamente e disparou sua única flecha.
E matou a temível ave perniciosa.
O sacrifício havia sido aceito.
As Iá Mi Oxorongá estavam apaziguadas.
O caçador recebeu honrarias e metade das riquezas do reino.
Os caçadores presos foram libertados
e todos festejaram.
Todos cantaram em louvor a Oxotocanxoxô.
O caçador Oxô ficou muito popular.
Cantavam em sua honra, chamando-o de Oxóssi,
que na língua do lugar quer dizer “O Caçador Oxô é Popular”.
Desde então Oxóssi é o seu nome.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 113 e 114. Originalmente encontrado e/ou transcrito de Pierre Verger, 1985, p. 289; Verger, 1981 (a), pp. 112-3. Verger, 1985, PP. 17-9; Verger, 1981 (b), PP. 25-35; Verger, 1981 (c), PP. 5 e segs.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

Lenda dos Orixás - Iemanjá - Iemanjá foge de Oquerê e corre para o mar



Iemanjá foi mãe de dez filhos,
fruto de seu casamento com Olofim-Odudua.
Cansada da vida em Ifé, Iemanjá partiu para o Oeste.
Iemanjá assim chegou a Abeocutá.
Lá conheceu Oquerê, rei de Xaci.
Conheceu Oque-rê, Oquê.
Oquê, encantado com a sua beleza, propôs-lhe casamento.
Ela concordou, desde que ele nunca fizesse alusão a seus seios,
seios que eram grandes, fartos, volumosos.
Porque Iemanjá havia amamentado muitos filhos.
Em troca, Iemanjá nunca falaria dos defeitos de Oquerê.
Não falaria de seus testículos exuberantes,
de sua mania de beber demais,
nem entraria em seus aposentos pessoais.
Esses eram os tabus de Iemanjá e Oquerê.

Um dia, Oquerê voltou para casa embriagado,
tropeçou em Iemanjá, vomitou no chão da sala.
Iemanjá o reprimiu, chamando-o de bêbado.
Chamou-o de imprestável.
Oquerê perdeu o domínio das palavras.
Ficou enfurecido.
Oquerê ofendeu Iemanjá,
fazendo comentários grosseiros sobre os imensos seios dela.
Iemanjá lembrou-o dos defeitos dele,
como ele bebia, como tinha exagerada a genitália.
Entrou no quarto dele e apontou a confusão que lá reinava.
Não havia mais reconciliação possível.
Todos os tabus estavam quebrados.
Oquê quis surrar Iemanjá
e ela fugiu.

Iemanjá saiu em fuga para a casa de sua mãe Olocum.
Iemanjá tinha um presente que ganhara dela,
uma garrafa com uma poção mágica, que levou consigo.
Na fuga, Iemanjá derrubou a garrafa e dela nasceu um rio,
que levaria Iemanjá ao mar, a casa de sua mãe.
Assim Iemanjá iniciou seu curso em direção ao mar.
Mas Oquerê, que a perseguia, tentou impedi-la de abandoná-lo.
Transformou-se ele próprio numa altíssima montanha,
que impedia o curso de Iemanjá em direção ao mar.
Oquerê transformou-se em Oquê, a montanha,
para impedir que Iemanjá, o rio, corresse para o mar.
Iemanjá chamou em seu auxílio Xangô, seu filho poderoso.
Xangô pediu oferendas e no dia seguinte provocou a chuva.
E quando a tempestade era forte, Xangô lançou um raio,
que num estrondo dividiu o monte Oquê em dois,
formando um vale profundo para a passagem de sua mãe, o rio.
Livre, Iemanjá seguiu para a casa da mãe dela, o mar.
Assim Iemanjá Ataramabá foi aconchegar-se no colo de Olocum.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 383-5. Originalmente encontrado em William Bascom, 1980, pp. 45-6, 489-93; Pierre Verger, 1981 (a), p. 190; Verger, 1981 (b), pp. 59-63; Verger, 1985, pp. 50-2; Agenor Miranda Rocha, 1994, pp. 83-4. variantes deste mito dizem que Iemanjá teria entrado num quarto proibido do palácio de Oquerê, buscando comida para seus hóspedes, e que seu marido teria então ridicularizado os fartos seios da esposa. Iemanjá replicara fazendo alusão aos enormes dentes de Oquerê e, noutra variada, fazendo pouco de seus desproporcionais testículos. Mito mito parecido ao de Otim. Noutra versão, o marido é Ogum (Ulli Beier, 1980, pp. 45-6). Em muitos candomblés, a Iemanjá aqui descrita corresponde à qualidade Ataramabá.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

Lenda dos Orixás - Nanã - Nanã tem um filho com Oxalufã



Nanã era considerada grande justiceira.
Qualquer problema que ocorresse,
todos a procuravam para ser a juíza das causas.
Mas sua imparcialidade era duvidosa.
Os homens temiam a justiça de Nanã,
pois se dizia que Nanã só castigava os homens
e premiava as mulheres.
Nanã tinha um jardim com um quarto para os eguns,
que eram comandados por ela.
Se alguma mulher reclamava do marido,
Nanã mandava prendê-lo.
Batia na parede chamando os eguns.
Os eguns assustavam e puniam o marido.
Só depois Nanã o libertava.

Ogum foi reclamar a Ifá sobre o que ocorria.
Segundo Exu, conhecido como bisbilhoteiro,
Nanã queria dizimar os homens.
Os orixás reunidos resolveram dar um amor para Nanã,
para que ela se acalmasse
e os deixasse em paz.
Os orixás enviaram Oxalufã nessa missão.

Chegando à casa de Nanã,
Oxalufã foi servido com ricos alimentos.
Mas o velho pediu-lhe que fizesse um suco de igbins, de caracóis.
Oxalufã, muito sábio, fez Nanã beber com ele o suco.
Nanã bebeu do omi eró, a água que acalma.
Assim Nanã foi se acalmando.
Cada dia que passava Nanã se afeiçoava mais a Oxalufã.

Pouco a pouco Nanã foi cedendo aos pedidos de Oxalá.
Mas até então Nanã não havia mostrado a ele seu jardim.
Um dia uma mulher queixosa do marido procurou Nanã,
e ela, aconselhada por Oxalufã, quis ouvir ambos os cônjuges,
não só a mulher, mas também o seu marido.

Nanã tinha se acalmado.
Mostrou de vez todo o seu reino a Oxalufã.
Mostrou também como comandava os eguns.
Oxalá observou tudo.
Um dia, quando Nanã se ausentou de casa,
Oxalá vestiu-se de mulher e foi ter com os eguns.
Com a voz mansa como a da velha,
Oxalá ordenou os eguns que dali em diante
eles atenderiam aos pedidos do homem que vivia na casa dela.

Em sua volta Nanã foi surpreendida com a afirmação de Oxalá,
que ele também mandaria nos eguns.
Mesmo contrariada, Nanã acatou o dito,
pois estava enamorada do velho,
queria ter com ele um filho.
Mas Oxalá disse a Nanã
que não poderiam ter um filho,
pois ambos tinham o mesmo sangue.
Nanã estava inconformada
e não aceitou o interdito.
Nanã preparou uma comida contendo um pó mágico
e o pó fez com que Oxalá adormecesse.
Aproveitando-se do sono de Oxalufã,
Nanã deitou-se com ele e engravidou.
Quando acordou,
Oxalá ficou muito contrariado.
Não podia mais confiar em Nanã,
pois Nanã se aproveitara do sono de Oxalá.
E Oxalá teve que abandonar Nanã.
Abandonou Nanã e foi viver com Iemanjá.



[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 198 – 200. Originalmente encontrado em Monique Augras, 1983, pp. 136-7.

Egum [Égún] – antepassado, espírito de morto, o mesmo que egungunm; alguns orixás são eguns divinizados.
Igbim [Ígbin] – caracol catassol; animal predileto de Oxalá.
Omi Eró [Omi èró] – literalmente, água que acalma; abô de folhas suaves; também “sangue” de caracol.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

Lenda dos Orixás - Oxum - Oxum Apará tem inveja de Oyá



Vivia Oxum no palácio em Ijimu.
Passava os dias no seu quarto olhando seus espelhos.
Eram conchas polidas
onde apreciava sua imagem bela.
Um dia saiu Oxum do quarto e deixou a porta aberta.
Sua irmã Oiá entrou no aposento,
extasiou-se com aquele mundo de espelhos,
viu-se neles.
As conchas fizeram espantosa revelação a Oiá.
Ela era linda! A mais bela!
A mais bonita de todas as mulheres!
Oiá descobriu sua beleza nos espelhos de Oxum.
Oiá se encantou, mas também se assustou:
era ela mais bonita que Oxum, a Bela.
Tão feliz ficou que contou do seu achado
a todo mundo.

E Oxum Apará remoeu amarga inveja,
já não era a mais bonita das mulheres.
Vingou-se.
Um dia foi à casa de Egungum e lhe roubou o espelho,
o espelho que só mostra a morte,
a imagem horrível de tudo o que é feio.
Pôs o espelho do Espectro no quarto de Oiá e esperou.
Oiá entrou no quarto, deu-se conta do objeto.
Oxum trancou Oiá pelo lado de fora.
Oiá olhou no espelho e se desesperou.
Tentou fugir, impossível.
Estava presa com sua terrível imagem.
Correu pelo quarto em desespero.
Atirou-se no chão.
Bateu com a cabeça nas paredes.
Não logrou escapar nem do quarto
nem da visão tenebrosa da feiúra.
Oiá enlouqueceu.
Oiá deixou este mundo.

Obatalá, que a tudo assistia, repreendeu Apará
e transformou Oiá em orixá.
Decidiu que a imagem de Oiá nunca seria esquecida por Oxum.
Obatalá condenou Apará a se vestir para sempre
com as cores usadas por Oiá,
levando nas jóias e nas armas de guerreira
o mesmo metal empregado pela irmã.

[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 323-5. Originalmente encontrado em Reginaldo Prandi, pesquisa de campo, São Paulo, 1997. Nos candomblés, Oxum Apará usa roupas cor-de-rosa, com ferramentas feitas de latão, que são atributos de Oiá.


Egungum | Egum [Égún] – antepassado, espírito de morto, o mesmo que egungunm; alguns orixás são eguns divinizados.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

Lenda dos Orixás - Ibejis - Os Ibejis nascem de Oiá e são criados por Oxum



Oiá andava pelo mundo disfarçada de novilha.
Um dia Oxóssi a viu sem pele e se apaixonou.
Casou-se com Oiá e escondeu a pele da novilha,
para ela não fugir dele.
Oiá teve dezesseis filhos com Oxóssi.
Oxum, que era a primeira esposa de Oxóssi
e que não tinha filhos,
foi quem criou todos os filhos de Oiá.
O primeiro a nascer chamou-se Togum.
Depois nasceram os gêmeos, os Ibejis,
e depois deles, Idoú.
Nasceu depois a menina Alabá,
seguida do menino Odobé.
E depois os demais filhos de Oiá e Oxóssi.
Os meninos pareciam-se com o pai,
as meninas, com a mãe.
Oiá tinha os filhos que Oxum criava
e assim viviam na casa de Oxóssi.
Um dia as duas mães se desentenderam.
Oxum mostrou a Oiá onde estava sua pele.
Oiá recuperou a pele de novilha,
reassumiu sua forma animal
e fugiu.





[Notas Bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, pág 368. Originalmente transcrito de Monique Augras, 1994, p.79.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

Lenda dos Orixás - Iansã - Oiá transforma-se num búfalo



Ogum caçava na floresta quando avistou um búfalo.
Ficou na espreita, pronto para abater a fera.
Qual foi sua surpresa ao ver que, de repente,
de sob a pele do búfalo saiu uma mulher linda.
Era Oiá. E não se deu conta de estar sendo observada.
Ela escondeu a pele de búfalo
e caminhou para o mercado da cidade.


Tendo visto tudo, Ogum aproveitou e roubou a pele.
Ogum escondeu a pele de Oiá num quarto de sua casa.
Depois foi ao mercado ao encontro da bela mulher.
Estonteado por sua beleza, Ogum cortejou Oiá.
Pediu-a em casamento.
Ela não respondeu e seguiu para a floresta.
Mas lá chegando não encontrou a pele.
Voltou ao mercado e encontrou Ogum.
Ele esperava por ela, mas fingiu nada saber.
Negou haver roubado o que quer que fosse de Iansã.
De novo, apaixonado, pediu Oiá em casamento.
Oiá, astuta, concordou em se casar
e foi viver com Ogum em sua casa,
mas fez as exigências:
ninguém na casa poderia referir-se a ela
fazendo qualquer alusão a seu lado animal.
Nem se poderia usar a casca do dendê para fazer o fogo,
nem rolar o pilão pelo chão da casa.
Ogum ouviu seus apelos e expôs aos familiares as condições
para todos conviverem em paz com sua nova esposa.
A vida no lar entrou na rotina.
Oiá teve nove filhos
e por isso era chamada Iansã, a mãe dos nove.
Mas nunca deixou de procurar a ppele do búfalo.


As outras mulheres de Ogum cada vez sentiam-se enciumadas.
Quando Ogum saía para caçar e cultivar o campo,
eles planejavam uma forma de descobrir
o segredo da origem de Iansã.
Assim, uma delas embriagou Ogum e este lhe revelou o mistério.
E na ausência de Ogum, as mulheres passam a cantarolar coisas.
Coisas que sugeriam o esconderijo da pele de Oiá
e coisas que alufiam ao seu lado animal.
Um dia, estando sozinha em casa,
Iansã procurou em cada quarto, até que encontrou sua pele.
Ela vestiu a pele e esperou que as mulheres retornassem.
E então saiu bufando, dando chifradas em todas, abrindo-lhes a barriga.
Somente seus nove filhos foram poupados.
E eles, desesperados, clamavam por sua benevolência.
O búfalo acalmou-se, os consolou e depois partiu.
Antes, porém, deixou com os filhos o seu par de chifres.
Num momento de perigo ou de necessidade,
seus filhos deveriam esfregar um dos chifres no outro.
e Iansã, estivesse onde estivesse,
viria rápida como um raio em seu socorro.


[Notas bibliográficas e Comentários]

Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi publicado pela Cia das Letras, págs 297-9. Originalmente transcrito por Pierre Verger, 1980, p.292; Verger, 1981 (a), p.161; Verger, 1981 (b), pp. 45-8; Verger, 1985, pp. 37-41; Rosamaria Susanna Barbàra, 1999, p. 62; Ulli Beier, 1980, pp. 33-34.

Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!

Canto de Oxum - Água de Oxum - Canto de Xango e Iansã






Orixás são formações de energia, ou vibrações que formam as estruturas fundamentais de nosso universo. Estas formações de energia também podem ser encontradas na terra, bem como dentro da fisiologia humana. No passado, havia grandes videntes que perceberam estas formações de energia e que mostrou outros como se conectar com a vida nutrir qualidades que essas energias têm para oferecer. Há culturas e tradições que mantiveram viva esta compreensão do Orixás e hoje esse conhecimento está se tornando disponível para o povo americano.






Nhem-nhem-nhem
Nhem-nhem-nhem-xorodô
Nhem-nhem-nhem-xorodô
É o mar, é o mar
Fé-fé xorodô...

Xangô andava em guerra,
Vencia toda a terra,
Tinha, ao seu lado, Iansã
Pra lhe ajudar.

Oxum era rainha,
Na mão direita tinha
O seu espelho, onde vivia
A se mirar.

Quando Xangô voltou,
O povo celebrou.
Teve uma festa que
Ninguém mais esqueceu.

Tão linda Oxum entrou,
Que veio o rei Xangô
E a colocou no trono
Esquerdo ao lado seu.

Iansã, apaixonada,
Cravou a sua espada
No lugar vago que era
O trono da traição.

Chamou um temporal
E, no pavor geral,
Correu dali, gritando
A sua maldição:
"Eparrei, Iansã!"




segunda-feira, 13 de junho de 2016

A Tribo Africana...



SAWABONA

Há uma "tribo" africana que tem um costume muito bonito.
Quando alguém faz algo prejudicial e errado, eles levam a pessoa para o centro da aldeia, e toda a tribo vem e o rodeia. Durante dois dias, eles vão dizer ao homem todas as coisas boas que ele já fez.
A tribo acredita que cada ser humano vem ao mundo como um ser bom. Cada um de nós desejando segurança, amor, paz, felicidade. Mas às vezes, na busca dessas coisas, as pessoas cometem erros.
A comunidade enxerga aqueles erros como um grito de socorro.
Eles se unem então para erguê-lo, para reconectá-lo com sua verdadeira natureza, para lembrá-lo quem ele realmente é, até que ele se lembre totalmente da verdade da qual ele tinha se desconectado temporariamente: "Eu sou bom".

Sawabona Shikoba!


SAWABONA, é um cumprimento usado na África do Sul e quer dizer:
"Eu te respeito, eu te valorizo. Você é importante pra mim"
Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA,que é:
"Então, eu existo pra você"

Dia de Ogum


13 de Junho dia do Santo Casamenteiro...
Santo Antônio, rogai por nós!

Salve Ogum
Axé!







No sincretismo...




HINO A SANTO ANTÔNIO

Bem merecestes ter com amor
Em vossos braços o Salvador!
Salve grande Antônio, Santo universal,
Que amparais aflitos contra todo o mal.
Bem merecestes ter com amor
Em vossos braços o Salvador!
Desprezando as honras pela sã pobreza,
A Jesus vos destes com ardor e firmeza.
Bem merecestes ter com amor
Em vossos braços o Salvador!
Em santas missões povos converteu,
Vossa língua santa que não pereceu.
Bem merecestes ter com amor
Em vossos braços o Salvador!
Irmão protetor sois dos brasileiros,
Que milagres cantam por séculos inteiros.
Bem merecestes ter com amor
Em vossos braços o Salvador!


segunda-feira, 23 de maio de 2016

Orixás transformados em pessoas formam série fotográfica "The Orisha Experience"




Os Yorubás, um dos maiores grupos étnicos da África, vivem em sua maioria no oeste da Nigéria. Nessa sociedade tradicional, originou-se, em sua religião, o culto idolátrico ao orixá. Durante muitos anos, a fé yorubá foi difundida e ramificada dentro do continente africano, mas foi só com o voraz e desumano tráfico negreiro que a América (especialmente Brasil e Cuba) passou a conhecê-la. O surgimento das religiões afro-brasileiras se deu por meio da fusão da cultura de sacerdotes africanos escravizados que passaram a cultuar mais de um orixá. Assim, surgiram religiões como o Candomblé e a Umbanda.

Para quem não sabe, os orixás são ancestrais divinizados que se manifestam os elementos do cosmos, dos seres vivos, dos fenômenos naturais, dos elementos da natureza e dos sentimentos imanados aos seres humanos. A literatura de toda essa cultura, desde as primeiras crenças até as ramificações atuais, é ainda muito escassa. Essas divindades vivem em nossa imaginação, cada um com a sua imagem ideal, tornando-se base ilustrações e desenhos. A originalidade do trabalho que venho a falar trata exatamente disso.

James C. Lewis é um fotógrafo que aplicou responsabilidade social em sua arte. Negro e norte-americano, viu o seu trabalho como uma ferramenta de combate ao racismo, ao evidenciar a beleza afro e participar de campanhas contra o preconceito. A identidade que ele criou deu espaço a novas experiências fotográficas, entre elas a exploração de suas raízes religiosas.

Dado o modelo de educação ocidental, James não chegou a ter muito contato com religiões politeístas em seus dias de escola. O interesse por conhecer mais resultou no estudo da riqueza cultural dos yorubás e, imediatamente após esse contato, inspirou-se para criar uma série de fotos retratando a sua visão artístico-criativa dessas divindades. Lewis decidiu focar-se na verdadeira origem da fé yorubá, portanto o nome de cada orixá foi escrito no dialeto original da época de sua concepção.
Impressione-se com a coleção Yoruba African Orishas:

























Exú: Divindade africana das encruzilhadas, contraventor, 
mensageiro entre a humanidade e divindades.

Iansã: Divindade guerreira africana do vento, mudanças repentinas, furações e fontes poderosas.

Ifá: Divindade africana da sabedoria, adivinhação e previsão.

Oxum: Divindade africana da beleza, amor, fertilidade e deusa dos rios.

Olokun: Divindade africana do oceano profundo, do abismo e simboliza sabedoria insondável.

Ossanha: Divindade africana da floresta, curandeiro natural e guardião das ervas.

Xangô: Divindade africana do fogo, do relâmpago e do trovão. 
Também representa poder masculino e sexualidade.

Aganju: Divindade africana dos vulcões e dos desertos. É o pai de Xangô,
 mas apontado como irmão em outras histórias.

Obaluayê: Divindade africana das enfermidades e doenças infecciosas. 
Também é o curador de  todas as moléstias.

Erinlé: Divindade africana da saúde física e do bem-estar. 
Atua como médico para os deuses.

Oxalá: Divindade africana da humanidade, representa a retidão espiritual e moral. 
Rei do pano branco e segundo filho de Olorum.

Obá: Divindade africana do casamento e domesticidade.

 Esposa banida de Xangô e filha de Iemanjá.

Oxumaré: Divindade africana do movimento direto, do arco-íris e da serpente. 
Guardião das crianças, mudanças de sexo, senhor das coisas alongadas
 e controlador do cordão umbilical.

Okô: Divindade africana da agricultura e da colheita.

Olorum: Deus criador do universo. Pai de todos os orixás e do céu.

Orí: É o conceito metafísico de uma instituição espiritual e do destino. Significa cabeça.

Oxóssi: Divindade africana da caça e da aferição. Vingador do acusado 
e daqueles que buscam justiça.

Iemanjá: Mãe divina africana da humanidade. Divindade do mar, 
filha de Oxalá e mulher de Aganju.

Ibeji: Divindades africanas crianças da juventude e vitalidade. 
Também conhecidos como os gêmeos sagrados.

Ogum: Divindade africana guerreira, do ferro, trabalho, política, 
sacrifício e da tecnologia.