Vivia Oxum no palácio em Ijimu.
Passava os dias no seu quarto olhando seus espelhos.
Eram conchas polidas
onde apreciava sua imagem bela.
Um dia saiu Oxum do quarto e deixou a porta aberta.
Sua irmã Oiá entrou no aposento,
extasiou-se com aquele mundo de espelhos,
viu-se neles.
As conchas fizeram espantosa revelação a Oiá.
Ela era linda! A mais bela!
A mais bonita de todas as mulheres!
Oiá descobriu sua beleza nos espelhos de Oxum.
Oiá se encantou, mas também se assustou:
era ela mais bonita que Oxum, a Bela.
Tão feliz ficou que contou do seu achado
a todo mundo.
E Oxum Apará remoeu amarga inveja,
já não era a mais bonita das mulheres.
Vingou-se.
Um dia foi à casa de Egungum e lhe roubou o espelho,
o espelho que só mostra a morte,
a imagem horrível de tudo o que é feio.
Pôs o espelho do Espectro no quarto de Oiá e esperou.
Oiá entrou no quarto, deu-se conta do objeto.
Oxum trancou Oiá pelo lado de fora.
Oiá olhou no espelho e se desesperou.
Tentou fugir, impossível.
Estava presa com sua terrível imagem.
Correu pelo quarto em desespero.
Atirou-se no chão.
Bateu com a cabeça nas paredes.
Não logrou escapar nem do quarto
nem da visão tenebrosa da feiúra.
Oiá enlouqueceu.
Oiá deixou este mundo.
Obatalá, que a tudo assistia, repreendeu Apará
e transformou Oiá em orixá.
Decidiu que a imagem de Oiá nunca seria esquecida por Oxum.
Obatalá condenou Apará a se vestir para sempre
com as cores usadas por Oiá,
levando nas jóias e nas armas de guerreira
o mesmo metal empregado pela irmã.
[Notas Bibliográficas e Comentários]
Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, publicado pela Cia das Letras, págs 323-5. Originalmente encontrado em Reginaldo Prandi, pesquisa de campo, São Paulo, 1997. Nos candomblés, Oxum Apará usa roupas cor-de-rosa, com ferramentas feitas de latão, que são atributos de Oiá.
Egungum | Egum [Égún] – antepassado, espírito de morto, o mesmo que egungunm; alguns orixás são eguns divinizados.
Axé a todos os nossos irmãos!
Deus é tudo acima de todas as coisas!
Olorum Kolofé!
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