quarta-feira, 8 de abril de 2015

A História das Casas de Santo do Candomblé no Brasil

Casa Branca-Engenho Velho

Ilê Axé Iya Nassô Oká / Terreiro da Casa Branca
Casa Branca do Engenho Velho , Sociedade São Jorge do Engenho Velho ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká é considerada a primeira casa de candomblé aberta em Salvador , Bahia .
"Terreiro da Casa Branca contituído de uma área de aproximadamente 6.800 m2, com as edificações, árvores e principais objetos sagrados, situado na Avenida Vasco da Gama s/nº, em Salvador, Bahia". Texto do tombamento Terreiro Casa Branca , realizado em 14/8/1986 pelo IPHAN.
História
Coroa do poste central
A história da Casa Branca do Engenho Velho foi contada na III Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura , realizado em Nova York , pelo representante oficial da Casa Branca, José Abade de Oliveira , Ótun Olu K'otun Jagun.
Ilê Axé Iya Nassô Oká / Terreiro da Casa Branca
No período da escravidão no Brasil, os negros formavam suas comunidades nos engenhos de cana. Na Bahia, princesas, na condição de escravas, vindas de Oyó e Keto , fundaram um centro num engenho de cana. Depois se agruparam num local denominado Barroquinha, onde fundaram uma comunidade de Nagô , que segundo historiadores, remonta mais ou menos 300 anos de existência.
Sabe-se que esta comunidade fora fundada por três negras africanas cujos nomes são: Adetá ou Iya Detá, Iya Kalá e Iya Nassô . Não se tem certeza de quem plantou o Axé , porém o Engenho Velho se chama Ilé Iya Nassô Oká .
O Ilé Iya Nassô funcionava numa Roça na Barroquinha, dentro do perímetro urbano de Salvador .
Os africanos que se encontravam alí, lugar deserto naquela época, porém próximo ao Palácio de sua Real Magestade, tiveram receio da intervenção das autoridades no seu Culto, daí, Iya Nassô resolveu arrendar terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo, no trecho chamado Joaquim dos Couros, lugar onde se encontra até hoje, estabelecendo aí o primeiro Terreiro de Culto Africano na Bahia.
À Iya Nassô, sucedeu Iya Marcelina ( esse foi o conflito que faz nascer o terreiro do gantois ). Após a morte desta, duas das suas filhas, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iya Kekeré) tomar a posse de Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se com as demais discidentes e fundaram outra Ilé Axé, o ( Terreiro do Gantois ).
Substituiu Maria Júlia Figueiredo na direção do Engenho Velho, a Mãe Sussu (Ursulina de Figueiredo). Com a sua morte nova divergência foi criada entre suas filhas, Sinhá Antonia, substituta legal de Sussu, por motivos superiores não podia tomar a chefia do Candomblé, em consequência o lugar de Mãe foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição).
Vencendo o partido da Ordem, os discidentes inconformados fundaram então uma outra Ilé Axé, o ( Opó Afonjá ). Talvez seja oportuno abrir um parêntese. O explanador é sobrinho de Sinhá Antonia e Ogan de Oxaguian da Tia Massi.
Maximiana Maria da Conceição, Tia Massi foi sucedida por Maria Deolinda , Mãe Oké . A direção sacerdotal do Engenho Velho foi posteriormente confiada à Marieta Vitória Cardoso, Oxum Niké , recentemente desaparecida.
Atualmente, assumiu a chefia da Casa, a Iya Lorixá Altamira Cecília dos Santos , filha legítima de Maria Deolinda.

O Terreiro

Poste central do barracão
O Terreiro é de Oxossi e o Templo principal é de Xangô. O Barracão que tem o nome de Casa Branca, é uma edificação alongada com várias divisões internas que encerram residências das principais pessoas do Terreiro, como também espaços reservados aos quartos de Orixás, quarto de Axé, Salão onde se realizam as festas públicas, bem como a cozinha onde se preparam as comidas sagradas. Uma bandeira branca hasteada no Terreiro indica o carater sagrado deste espaço. No telhado do Barracão, símbolos de Xangô identificam o Patrono do Templo.
O terreno fica situado numa encosta que se estende até uma cota de 30.00m com declividade de 30%, no lado direito da atual Av. da Gama, no sentido de progressão para o Rio Vermelho, entre as Ladeiras Manoel do Bonfim e do Bogun, na Unidade Espacial C-5 em Salvador - Bahia. Ocupa uma área de 6.000m². Tem como endereço, Av. Vasco da Gama, 463. Em redor do Barracão existem várias casas de Orixás.
Situação atual
No iníco, as atividades do Ilé Axé sofreram perseguições da Sociedade e por parte da Polícia. Já no período da República, o candomblé fora proibido de exercer as suas atividades e os Terreiros ficaram subjugados à Delegacia de Jogos, Entorpecentes e Lenocínio.
Hoje porém a situação é diferente. Existe na Prefeitura de Salvador, o Projeto MAMNBA da Pro-Memória, sob a direção do Antropólogo Ordep José Trindade Serra, cujo objetivo é proceder o Mapeamento de Sítios e Monumentos Religiosos Negros na Bahia.
Em 14 de junho do corrente ano, o Ministério da Cultura, a Prefeitura Municipal de Salvador e o Ministério da Relações Exteriores, em conjunto lançaram oito postais sobre a Ilé Axé Iya Nassô Oká e a revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional publicou - A Coroa de Xangô no Terreiro da Casa Branca - em separata do número 21/1986. Chegou então a hora da proteção a todos os Terreiros de Candomblé do Estado. Língua Yorubá nos Currículos de 1º e 2º graus.
Diante da solicitação da Socidade Beneficente São Jorge do Engenho Velho, conforme fundamentação e comprovação firmada pelo presidente, Sr. Antonio Agnelo Pereira, cultor de etnografia afro e diplomado em Língua Yorubá pelo Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia, o Conselho Estadual de Educação aprovou introdução da Língua Yorubá nos Currículos de 1º e 2º Graus nos Colégios de Rêde de Ensino do Estado.
O Ilé Axé Iya Nassô é o 1º Templo de Culto Religioso Negro no Brasil - Casa Branca do Engenho Velho.
É o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984 (Tombamento do Terreiro do Engenho Velho).
Antes disso, em 1982, o Terreiro já havia sido tombado como Patrimônio da Cidade do Salvador 1ª Capital do Brasil.
Em 1985 o Terreiro do Engenho Velho foi considerado Axé Especial de preservação Cultural do Município de Salvador.
A Sociedade São Jorge do Engenho Velho, representante legal da Comunidade do Ilé Axé Iya Nassô Oká foi considerada de utilidade pública Municipal e Estadual. É Membro do Conselho Geral do Memorial Zumbi .
Atualmente está feito o Plano de preservação do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho e prepara-se o Projeto de Recuperação da área em convênio com o Ministério da Cultura e a Prefeitura Municipal do Salvador.
O Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, mais antigo do Brasil, tem como Iyalorixá a Venerável Altamira Cecília dos Santos , secundada pelas veneráveis Iya Kekeré Juliana da Silva Baraúna e Otun Iya Kekeré Areonite Conceição Chagas .
Possui um vasto Colégio Sacerdotal composto pelas Iya bomin, Ogans e Olossés, além de muitas Iyaôs e Abians. Deu origem a inúmeros Templos Afro-Brasileiros .
Em nome da Iyalorixá e de todo o Corpo sacerdotal do Terreiro, transmitimos nossas saudações aos irmãos negros dos Estados Unidos e de todo o Mundo, em primeiro lugar. Abraçamos também os Povos e Nações existentes no Continente Americano e todos os Homens de boa vontade pela Paz e Igualdade de todos.

Sacerdotisas

  • Iyá Nassô
Iyá Nassô - africana considerada uma das fundadoras da primeira casa de candomblé em Salvador , e a primeira Iyalorixá da Casa Branca-Engenho Velho .
Maria Júlia Figueiredo - filha de sangue de Iyá Nassô , a fundadora do candomblé da Barroquinha e responsável por trazer o culto de Xangô para a Bahia .
  • Ursulina de Figueiredo
  • Maximiana Maria da Conceição
  • Maria Deolinda
  • Marieta Vitória Cardoso
  • Altamira Cecília dos Santos
Altamira Cecília dos Santos ou Mãe Tata - filha legítima de Maria Deolinda , é a atual Iyalorixádo Ilê Axé Iyá Nassô

Sociedade Beneficente e Recreativa

A Sociedade Beneficente e Recreativa São Jorge do Engenho Velho que representa o candomblé da Casa Branca, foi fundada a 25 de julho de 1943, registrada no Cartório Especial de Títulos e Documentos em 2 de maio de 1945 sob nº 15.599, declarada de utilidade pública pela Lei Municipal 759 de 31 de dezembro de 1956, é regida por Estatuto e tem personalidade jurídica.
Sua Diretoria é composta por um presidente, um vice, 1º e 2º secretário, 1º e 2º tesoureiro. Assembléia geral, com presidente, 1º e 2º secretários. Comissão fiscal, composta por três membros.
Atualmente a Diretoria da Sociedade é exercida pelo Sr. Antônio Agnelo Pereira. Ministro de Oxalá, Oxogum e Obalaxé do Ilé Iya Nassô Oká, Casa Branca.
A Diretoria de Honra da Entidade é composta pela Trilogia Sacerdotal do Axé, atualmente representada nas pessoas da Iya Altamira Cecília dos Santos , Iya Juliana da Silva Baraúna e Iya Areonite da Conceição Chagas . Existe ainda a Diretoria do Patrimônio e uma Comissão de Defesa do Patrimônio.

Calendário de festas

As obrigações religiosas da Ilé Axé começam no fim de maio ou princípio de junho com a Festa de Oxossi . No dia de Corpus Christi tem a tradicional Missa de Oxóssi
A Festa de Xangô Airá tem lugar a 29 de junho.
Na última sexta-feira de agosto, realiza-se a Cerimônia da As Águas de Oxalá , seguindo-se os três domingos consecutivos, nos quais se festeja Odudwa no primeiro, Oxalufan no segundo e a Festa do Pilão em homenagem a Oxaguian , no último domingo.
Na segunda-feira imediata, festeja-se Ogum e na seguinte Omolú .
Havendo no entanto, um espaço para iniciação de novas filhas, prossegue as festas em louvor a Yansã , Xangô , Festa das Iabás e Oxum , terminando o cíclo festivo no final de novembro.

As Águas de Oxalá

As Águas de Oxalá no Ilê Opó Afonjá é descrita sem detalhes. Os filhos do Axé, trajados de branco, saem em silêncio do terreiro , em procissão, carregando potes e moringas, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá .
No tempo de Mãe Senhora , dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro.

Terreiro do Gantois

A Sociedade São Jorge do Gantois , Terreiro do Gantois ou Axé Yamassê como é conhecido fica no Alto do Gantois, 33, no bairro da Federação, Salvador , Bahia .
Essa é outra grande casa de candomblé Gêge-Nagô, que também nasceu da Casa Branca do Engenho Velho , foi fundado por Maria Júlia da Conceição Nazaré em 1849.
O nome Gantois veio de um francês que era o dono do terreno onde o templo religioso foi construído.
O que diferencia o Gantois de outros terreiros tradicionais da Bahia, como o Axé Opô Afonjá , Casa Branca , Terreiro do Bogum e outros, é que a sucessão se dá pela linhagem e não através de escolha pelo jogo de búzios. De acordo com o antropólogo Julio Braga: "Historicamente, o Gantois é um candomblé familiar de tradição hereditária consangüínea, em que os regentes são sempre do sexo feminino", em entrevista fornecida ao Correio da Bahia.

Opó Afonjá

Ilê Axé Opó Afonjá

Ilê Axé Opó Afonjá , Centro Cruz Santa do Axé do Opó Afonjá , fundada em 1910, localizada na Estrada de São Gonçalo do Retiro, Salvador , Bahia
O Tombamento Terreiro Opo Afonjá relizado em 28-7-2000 pelo IPHAN

Terreiro Opo Afonjá

(Redirecionado de Tombamento Terreiro Opo Afonjá para Terreiro Opo Afonjá .)
Livro do Tombo: arquivo Noronha Santos - Terreiro do Axé Opô Afonjá (Salvador, BA), Outros Nomes:Terreiro de Candomblé do Axé Opô Afonjá; Ilê Axé Opô Afonjá
Descrição:A história do Terreiro do Axé Opô Afonjá, assim como a do Terreiro do Gantois, está intimamente vinculada ao Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho. Este é o Terreiro mais antigo de que se tem notícia e o que, segundo vários autores, serviu de modelo para todos os outros, de todas as nações. Um grupo dissidente do Terreiro da Casa Branca, comandado por Eugênia Anna dos Santos, fundou, em 1910, numa roça adquirida no bairro de São Gonçalo do Retiro, o Terreiro Kêtu do Axé Opô Afonjá. O terreiro ocupa uma área de cerca de 39.000 m2. As edificações de uso religioso e habitacional do terreiro, ocupam cerca de 1/3 do total do terreno, em sua parte mais alta e plana, sendo o restante ocupado pela área de vegetação densa que constitui, nos dias de hoje, o único espaço verde das redondezas.
Por força da topografia do terreno, as edificações do Axé Opô Afonjá se distribuem mais ou menos linearmente, aproveitando as áreas mais planas da cumeada, tornando, no acesso principal, um "terreiro" aberto em torno do qual se destacam os edifícios do barracão, do templo principal - contendo os santuários de Oxalá e de Iemanjá -, da Casa de Xangô e da Escola Eugênia Anna dos Santos. A organização espacial do Axé Opô Afonjá mantém as caracteríticas básicas do modelo espacial típico do terreiro jejê-nagô. Esses mesmos elementos, são também encontrados nos terreiros da Casa Branca e do Gantois, apenas com uma diferença: no Axé Opô Afonjá o barracão é uma construção independente, ao passo que nos dois outros terreiros ele está incorporado ao templo principal.
Endereço: Rua Direta de São Gonçalo do Retiro, 557, Cabula - Salvador - BA
Livro Histórico Inscrição:559 Data:28-7-2000
Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico Inscrição:124 Data:28-7-2000 Nº Processo:1432-T-98.

Candomblé Jeje

(Redirecionado de Jeje para Candomblé Jeje .)
Os voduns são divindades de origem Fon que correspondem aos orixás dos nagôs. Os fons, ao chegarem no Brasil , eram chamados de "Jejes", implantaram aqui o seu culto, baseado em rica, complexa e elevada mitologia.

Terreiro do Bogum

O Terreiro do Bogum está localizado na Ladeira do Bogum, antiga Manoel do Bonfim, no Bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador , Bahia , Brasil .
O Terreiro de Bogum, de Nação Jeje , é diferente dos outros terreiros de Salvador. Uma das principais diferenças é a língua falada nos rituais. Como explica Jaime Sodré (ogã da casa há 35 anos), a língua falada pelos jeje é o ewé , do povo fon , com tradição ligada ao Benin . A maioria dos candomblés baianos é de tradição nagô e utiliza como língua o iorubá . Além da língua, alguns rituais dos jeje são diferentes. No Terreiro do Bogum não existem orixás , lá se cultuam os voduns e recebem outras denominações.
A missa em homenagem a São Bartolomeu é feita anualmente há 200 anos, tendo-se tornado uma tradição do Terreiro do Bogum.
Zaildes Iracema de Mello, Mãe Índia, é a atual chefe do terreiro, tendo sucedido sua tia Nicinha e sua tia-avó Valentina (Runhó).
Segundo historiadores, foi no local onde está o Bogum que Joaquim Jêje, herói do movimento de insurreição de escravos malês, deixou o bogum (baú) onde estavam os donativos que permitiram a famosa Revolta dos Malês ocorrida em Salvador em janeiro de 1835. Esses escravos sabiam ler e escrever em árabe, tinham grande poder de organização e articulação e pretendiam fundar um "reino africano" em terras brasileiras, mas foram traídos e a "revolução negra-escrava" foi descoberta. O termo "bogum" também pode ser explicado pelo dialeto gun  ( http://www.ethnologue.com/show_language.asp?code=GUW ) (dialeto do fon com muitos elementos do iorubá), falado na região de Porto Novo, no Benin, significando "lugar ( ibo ) dos fon ( gun )". O nome completo do terreiro é Zoogodô Bogum Malê Rundó .
UM RESULMO DO QUE FOI A REVOLTA DOS MALÊS
A Revolta dos Malês
Durante as três primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na província da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais a islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que protagonizaram a rebelião, conhecida como dos "malê", pois este termo designava os negros muçulmanos, que sabiam ler e escrever o árabe. Sendo a maioria deles composta por " negros de ganho ", tinham mais liberdade que os negros das fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora tratados com desprezo e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos lhes deixavam, conseguiam comprar a alforria.
Em janeiro de 1835 um grupo de cerca de 1500 negros, liderados pelos muçulmanos Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, dentre outros, armou uma conspiração com o objetivo de libertar seus companheiros islâmicos e matar brancos e mulatos considerados traidores, marcada para estourar no dia 25 daquele mesmo mês. Arrecadaram dinheiro para comprar armas e redigiram planos em árabe, mas foram denunciados por uma negra ao juiz de paz. Conseguem, ainda, atacar o quartel que controlava a cidade mas, devido à inferioridade numérica e de armamentos, acabaram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional , pela polícia e por civis armados que estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra .
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros. Duzentos escravos foram levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. Apesar de massacrada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de contestação e rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II.
AS ÁGUAS DE OXALÁ
(do livro História de um Terreiro Nagô - Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI - Max Limonad-Joruês Cia Editora)
O Ciclo de Oxalá, Pai de Todos os Orixás
As Águas de Oxalá
Na quinta-feira à noite, antes de se iniciarem os preceitos das águas de Oxalá, das dezenove até às vinte e quatro horas, todos os filhos e filhas da casa são obrigados a fazer um bori (obrigação que se faz coma fruta chamada obi e água) para poderem carregar as águas.
Depois desse bori, vão se agasalhar, até que são despertados pela Iyalorixá para iniciarem o preceito das águas.
Os filhos do Axé, trajados de alvo, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes e moringues, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá. No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro.
Meia hora depois, com suas vasilhas cheias d'água, aproximam-se de um lugar apropriado, todo cercado de palha, com uma oca indígena, chamado Balué, onde se colocou o assento do velho Oxalá. Alí, todos apresentam aquelas águas à Iyalorixá, que as derrama por cima do assento de Oxalá. São feitas três viagens à fonte ou aonde está a água, e, na terceira, a água não é mais derramada, ficando todas as vasilhas cheias depositadas no Balué, sendo colocada uma cortina branca na porta e uma esteira no chão.
Cada pessoa que chega ajoelha-se sobre aquela esteira em sinal de reverência. Algumas pessoas, os que têm orixá masculino, dão Dodobalé, deitam-se de fio ao comprido, tocando a cabeça no chão. As demais dão o Iká otun iká osi, virando-se de um lado e do outro, tocando o chão com a cabeça - são as que têm o orixá feminino. Depois dessa cortesia, a Iyalorixá, juntamente com todos os seus filhos e associados, começa a cantar uma saudação para Oxalá (Oriki):
Babá êpa ô
Babá êpa ô
Ará mi fo adiê
Êpa ô
Ará mi ko a xekê
Axekê koma do dun ô
Êpa Babá
Depois de cantada essa saudação, todas as pessoas pertencentes à Oxalá são por ele manifestadas e vão até o Obalué, que é, como já se viu, onde está o assento do orixá.
Fazem ali determinadas reverências e cumprimentam a todos, agradecendo o sacrifício daquele dia e rogando a Oduduá para abençoar a todos.

Fonte de pesquisa


                          
    Histórias ou lendas sobre a minha raiz

Fundada pelos escravos Manoel VenturaTixaremeZé do Brechó e Gaiaku Ludovina Pessoa, também conhecida como Ogum Rainha que muitos acham que ela deveria ter sido uma rainha mesmo, Manuel Ventura, era só o dono das terras.
Tixareme foi o primeiro Pejigan da Roça e Ludovina sería a primeira Gaiaku. Essa roça foi aberta por Ludovina para a sua filha Maria Ogorenssi mais conhecia como Ahumsi misimi que levou essa roça com muita força e independencia sendo assim denominada de Djejê Maxi Axé Seja Unde, onde ela iniciou alguns vodunsis, como o saudoso Tata Fomotinho (Antonio Pinto de Oliveira) ou Oxum Ojunto Deí, que foi para o Rio de Janeiro levando um pouco do que lá aprendeu.

Ludovina Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), daomeana foi escolhida pelos Voduns para fundar três templos na Bahia.
Ela fundou:
O templo de Ajunsun-Sakpata foi fundado mais tarde pela africana Gaiaku Satu, em Cachoeira e São Felix e recebeu o nome de Axé KPó Egi, mais conhecido por Terreiro Cacunda de Yayá, que tem como sua representante a Gaiaku Maria de Lourdes Buana(Ya Ominibu Kafae foobá), filha de Mae Tança de Nanã (Jaoci) que era filha de Gaiaku Satu.




Tata Fomutinho



Zezinho da Boa Viagem


Depoimento de José Gomes de Lima – Zezinho da Boa Viagem: (Meu avô de Santo) 
Quem trouxe os mahin para Cachoeira de São Félix foram os “tios”. Eles se dividiram em cachoeira porque junto com eles, em outra levada, vieram Tixarene, Zé do Brexó e outras pessoas mais que fundaram suas roças.
Vovô Ventura e Gaiaku Ludovina fundaram a roça do Kwe Seja Hundê que é a roça de baixo; Tixareme fundou a roça de cima, quer dizer, duas nações jeje a vinte metros uma da outra…quando morre uma mãe-de-santo, nosso pai que descende de Komadavit, então é ele quem aponta a pessoa que vai ficar no trono.
A minha primeira zeladora foi Iyá Fortunata, Baiana de Pina. Filha de Oxum e Oyá. Posteriormente fui iniciado pelas mãos de Tata Fomotinho em São João de MeritiRio de Janeiro
Tata Fomotinho foi o primeiro homem feito no Seja Undê em 25/12/1912. Veio para o Rio em 1930 abrindo sua casa mais tarde em 1936.
Luiza Franquelina da Rocha, nasceu em 1909 e é mais conhecida como Gayaku Luiza do Hunkpame Huntoloji, no alto da levada em cachoeira. È filha carnal do pejigan do Seja Hundê. Inicialmente foi feita no ritual ketu, sendo mais tarde “refeita” no ritual jeje por Gayaku Posusi Rumaninha (Maria Romana Moreira) no candomblé do Terreiro do Bogum em 1945, na qualidade de rumbono.
Gaiaku Romaninha não tinha terreiro fixo, por ser muito conceituada tinha acesso a todos, tendo sido “ Dere “, mãe-pequena do Terreiro Bate Folha, advindo daí, talvez, a influência de ritos jeje no ritual de Angola. Faleceu em 1956 com 115 anos de idade.
Os avós maternos de Dila de Obaluaye tinham cargo no candomblé de Rozena de Bessen: Afonsekoloanoo de Sango, foi o primeiro pejigan e Adpan Noeji foi feita de Oxumare.
Quando Aninha morreu, Dila tirou a mão com Mejitó, que lhe abriu a casa.
Mejitó, Adelaide do Espírito Santo, também conhecida como Donontinha, foi iniciada com 7 anos de idade em 1891, pois era costume fazer iniciação quando criança.
Era de Vodunjo e o nome dado foi Zinvode. Mudou o candomblé do bairro de Cavalcante para a Rua Cecília em Coelho da Rocha, próximo à atual sede do Àsé Òpó Àfònjá do Rio de Janeiro. Com quem mantinha boas relações com a dirigente da época, Agripina de Souza. Tirou dois barcos com seis pessoas, vindo a falecer em 1956.
Para finalizar também existe uma outra casa de Jeje na Bahia de nome àsé Kpó eji, na Cacunda de Yayá, com ritual Savalu e fundada por Gaiaku Satu de Cachoeira."
Esta Nação é Jeje Mahi, que foi comandada por Sinhá Romana, irmã de Santo da Gaiaku Ludovina Pessoa.
Pela ordem genealógica os Sacerdotes:
  • Tixareme (Fundador)
  • Ludovina Pessoa (Fundadora)
  • Gayakú Ogorenssi,
  • Gayakú Abali,
  • Gayakú Pararassi,
  • Gayakú Aguéssi, Elisa Gonçalves, dona da terra.
  • Gayakú Gamo Lokosse que foi escolhida por Sinhá Pararassi para ser a herdeira do trono.
  • Gayakú Alda de Oyá - (Fomo Oiassy) atual sucessora.



Fundação Cultural Palmares

Depois de 1933 o Candomblé nunca mais seria visto da mesma maneira. Foi nesse ano que João Alves de Torres Filho, o Joãozinho da Goméia, foi iniciado na religião pela tradição Angola. O garoto nascido em 27 de março de 1914, na cidade de Inhambupe, a 153 quilômetros de Salvador, Bahia, foi dono de personalidade que seria o combustível para tal mudança. Seria ele, o grande responsável pela popularização da religião no Brasil e ficaria conhecido como Rei do Candomblé.
Foi aos 10 anos de idade que o garoto começou a sentir fortes e inexplicáveis dores de cabeça e a sonhar constantemente com um “um homem cheio de penas”. Avisos dos orixás que o fariam buscar a iniciação na religião e tornar-se o primeiro sacerdote do Candomblé de Caboclo realmente conhecido no país. Em outra fase de sua vida, refez o santo no Terreiro do Gantois com Mãe Menininha e eternizou-se como referência nas tradições do Candomblé: Angola, Bantu e de Caboclo.
Preconceitos e ascensão - Negro, de personalidade irreverente à sua época e à sua envergadura como líder espiritual, Joãozinho foi homossexual assumido, compositor, dançarino, costureiro e bom garantidor de polêmicas ao apresentar as danças sagradas dos orixás em espaços públicos. Além do racismo e dos preconceitos vividos por suas escolhas de vida, sofreu críticas dos seus irmãos de religião que não admitiam um pai-de-santo se dedicar a um caboclo – espírito encantado originário das religiões indígenas, sem relação com a África -, no caso, o Caboclo Pedra Preta.
Joãozinho foi um homem com ascensão meteórica para um religioso que transgredia as regras dos chamados grandes terreiros. Sabia do poder da imprensa e nela se apoiou ao ponto de chegar a uma fama comparável somente a de Mãe Menininha do Gantois. Foi o primeiro pai-de-santo a perceber o poder da comunicação e a usá-lo para reduzir a discriminação contra o Candomblé.  Manteve relações com publicações importantes como a revista O Cruzeiro e, apesar de todo esse reconhecimento, esteve longe de ser uma unanimidade entre o povo de santo.
Seu primeiro terreiro foi erguido num bairro chamado Ladeira de Pedra, mas logo foi transferido para o local que o tornou famoso, a ponto de incorporar o endereço ao próprio nome: Rua da Goméia. Em 1948, o pai-de-santo deixou a Bahia e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde abriu casa no município de Duque de Caxias. Seu terreiro era feito com modestas instalações, o que não o impediu de tornar-se um local famoso.
Ainda, nas décadas de 1950 e 1960, o Terreiro da Goméia passou a ser referência, não só por ser um dos primeiros terreiros de Candomblé na região sudeste, mas também pelos seus frequentadores, políticos e artistas de todos os lugares. Entre eles, Cauby Peixoto, Dorival Caymmi, Emilinha Borba, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Maria Antonieta Pons, Marlene, Paulo Gracindo, Solano Trindade, Tenório Cavalcanti e José Bispo dos Santos ou Pai Bobó.
Passagem – Após 57 anos de vida e 40 de dedicação ao Candomblé, Joãozinho da Goméia desencarnou. Era 19 de março de 1971, quando na mesa de cirurgia o babalorixá não resistiu ao procedimento que o libertaria de um tumor cerebral. Por estranha coincidência, no mesmo dia, seu terreiro em Duque de Caixas promoveria o Lorogun – uma das grandes cerimônias do Candomblé que significa o fechamento do terreiro para o período da Quaresma.
Joãozinho foi sepultado no cemitério de Duque de Caxias, num dia em que uma chuva de proporções míticas caiu sobre o Rio de Janeiro, exatamente na hora em que seu ataúde baixava à sepultura. Para os adeptos, uma manifestação de Iansã recebendo seu filho, o que culminou em muitos filhos-de-santo incorporando seus orixás e dançando, em transe, em pleno cemitério.
Herdeiros da Goméia - Sete dias após a morte de Joãozinho, os búzios foram jogados para que fosse indicado o herdeiro do trono da Goméia carioca. Para surpresa de todos, a escolhida foi Sandra Reis dos Santos, aos nove anos de idade. Filha de Kitala Mungongo, iniciada por Joãozinho há 80 anos, Sandra que é  hoje Ceci Caxi, nasceu dentro da Goméia no dia primeiro de novembro de 1961, pelas mãos do próprio seu João, que também foi seu padrinho de batismo.
Os terreiros erguidos por Joãozinho foram extintos depois de sua morte. Porém o babalorixá formou diversos filhos-de-santo, que criaram novos terreiros em São Paulo e no Rio de Janeiro. São casas de Candomblé que ainda hoje se apresentam orgulhosamente como fazendo parte do “modelo Goméia”, ou da “raiz Goméia”. No Sudeste, seu nome é uma verdadeira grife da religião. Em Salvador, o terreiro também teve um triste fim, foi desfeito e a área onde se localizava é hoje ocupada por instalações da Embasa.
Entre os religiosos que também dão continuidade a linhagem da Goméia, estão ainda  Maria Lúcia Santana Neves (mãe Lúcia), herdeira da Goméia na Bahia, e Sebastião Paulo da Silva (Gitadê), que se responsabilizou por garantir descendentes da linhagem em São Paulo, estado para onde levou os assentamentos de Joãozinho a fim de zelar para que os ibás de seu Oxossi e sua Iansã permaneçam devidamente cuidados e alimentados.
Quanto ao caboclo Pedra Preta, a entidade mais famosa incorporada por Joãozinho, ficou sem um sucessor à altura. O assentamento do Caboclo se encontra atualmente no Terreiro São Jorge, na Bahia. As histórias contadas pelas pessoas que conheceram Joãozinho são o que vêm perpetuando sua memória.

A Fundação Cultural Palmares tentou entrar em contato com os herdeiros da Goméia para entrevistá-los, porém não foi possível 
devido a condição de saúde de Gitadê, a viagem de Mãe Lúcia à Portugal e a localização de Ceci Caxi.
Fontes:
Artigo Joãozinho da Goméia, o Rei do Candomblé de Marccelus Bragg
Artigo A Luta pela Goméia e o Resgate da história de  Waldemar Alvarenga Lapoente
Artigo O Negro Baiano Pai Joãozinho da Goméia: o Candomblé de Duque de Caxias na mídia dos anos cinquenta de Joselina da Silva
Artigo Joãozinho da Goméia, o Tatá Londirá, o Rei do Candomblé de Caboclo por Alexandre Santos

1 comentário:

Félix Marinho disse...

Que angu com batatas heim, você fez uma misturada danada. Quando deveria comentar e se aprofundar, sobre o seu Axé.