terça-feira, 14 de abril de 2015

Qual é o nome do seu Erê ? O meu é Serpente de Ouro




No Candomblé, Erê é o intermediário entre a pessoa e o seu Orixá, é o aflorar da criança que cada um guarda dentro de si; reside no ponto exato entre a consciência da pessoa e a inconsciência do orixá. É por meio do Erê que o Orixá expressa a sua vontade, que o noviço aprende as coisas fundamentais do candomblé, como as danças e os ritos específicos do seu Orixá.

A palavra Erê vem do yorubá, iré, que significa “brincadeira, divertimento”. Daí a expressão siré que significa “fazer brincadeiras”. O Erê (não confundir com criança que em yorubá é omodé) aparece instantaneamente logo após o transe do orixá, ou seja, o Erê é o intermediário entre o iniciado e o orixá.

Durante o ritual de iniciação no Candomblé, o Erê é de suma importância pois, é o Erê que muitas das vezes trará as várias mensagens do orixá do recém-iniciado.

O Erê às vezes confundido com Ibeji, na verdade é a inconsciência do novo omon-orixá, pois o Erê é o responsável por muita coisa e ritos passados durante o período de reclusão. O Erê conhece todas as preocupações do iyawo (filho), também, aí chamado de omon-tú ou “criança-nova”. O comportamento do iniciado em estado de “Erê” é mais influenciado por certos aspectos da sua personalidade, que pelo carácter rígido e convencional atribuído ao seu orixá. Após o ritual do orúko, ou seja, nome de iyawo segue-se um novo ritual, ou o reaprendizado das coisas chamado Apanan.

A confusão entre Ibeji e Erê é muito frequente, ao ponto que em algumas casas de candomblé e batuque Ibeji é referido como Erê (criança) que se manifesta após a  chegada do orixá, em outras são cultuados como Xangô e ou Oxum crianças. Porém na verdade Ibeji é um orixá independente dos Erês. Dado o facto conhecido e recorrente de que muita gente transita entre o Candomblé e a Umbanda, é também natural que esta confusão se acentue, dados os conceitos e entendimentos diferentes que existem nas duas religiões e que muitas vezes as pessoas não conseguem diferenciar.

Na Umbanda, Erês, Ibejada, Dois-Dois, Crianças, ou Ibejis são entidades de carácter infantil, que simbolizam pureza, inocência e singeleza e se entregam a brincadeiras e divertimentos. Pedem-lhes ajuda para os filhos, para fazer confidências e resolver problemas. Geralmente supõe-se que são espíritos que desencarnaram com pouca idade e trazem características da sua última encarnação, como trejeitos e fala de criança e o gosto por brinquedos e doces. Diz-se que optaram por continuar sua evolução espiritual através da prática de caridade, incorporando em médiuns nos terreiros de Umbanda. São tidos como mensageiro dos Orixás, respeitados pelos caboclos e pretos-velhos. Geralmente, são agrupados em uma linha própria, chamada de Linha das Crianças, Linha de Yori ou Linha de Ibeji. Costumam ter nomes típicos de crianças brasileiras, como Rosinha, Mariazinha, Ritinha, Pedrinho, Paulinho e Cosminho. Seus líderes de falange incluem Cosme e Damião. Comem bolos, balas, refrigerantes, normalmente guaraná e frutas.

Então: Qual é o nome do seu Erê?   Deixe nos comentários !

quinta-feira, 9 de abril de 2015

No Senegal...

Oxossi, Oxum e Logun Edé

Xirê de Oxumarê




ÒSUNMARÈ
Arò bó bò Yí! (Neste dia que nasce lhe rendemos graças!)

Òsunmarè lelé mo rí Òsunmarè
Lelé mo rí rà ba ta (Oxumarê encontra-se andando no chão. É preciso saber encontrar Oxumare)
Lelé mo rí Òsunmaré (andando sobre o chão é preciso saber encontrar por que ela se esconde. Tenha cuidado por onde anda para não chuta-la (ou pisá-la)).

Ódí náà léwà (Ela é teimosa, mas também é bela).
Léwà léwà e (ela é bela, bela).
Ódí náà léwà (Ela é teimosa, mas também é bela)
Léwà léwà e (ela é bela, bela)

O bi òjò birí bò (Ele surge através de pequenas gotas de chuva)
O mió aráiye (Água doce que sustenta a humanidade)

Jô ma ndi o pe (Ele sempre vem quando o chamamos)
Jô ma ndi o pe (Ele sempre vem quando o chamamos)

E sìn a bebe ko e dìde (Nós adoramos sua dança e seu ato de ir ao chão e depois se levantar)
E sìn a bebe ko e dìde (Nós adoramos sua dança e seu ato de ir ao chão e depois se levantar)

O dí ma dí ma (Ele sempre foi, sempre foi)
Òsunmarè aidan (Oxumare sempre foi belo)

Ma sán rí ma sa ibó (O céu é um lugar de adoração)
E e e o fi-ko fi opè (Devemos olhá-lo com respeito e dar graças)
Arò bó bò yí! U nké lè sìn (Aróbò bò yi louvamos e cultuamos sua força)
A ni wère lókan (Vós sois um jovem bravo!)

Àwa e kó oribande (traga para nós a boa sorte)
E hàn oribande (A sua presença nos traz a boa sorte)

Àwa bí a ma gbo ji bè (A cada dia que despertamos damos graças para que, assim como o dia que nasce, tenhamos também nossas vidas renovadas).
E ba kú èwe lè (a cada dia que nasce, nossas vidas possam ser renovadas com a sua força)

Arò bó bò yí!
A bo mojúbà a wù rí ko kun (Nós o adoramos! Mojubá! Nós o reverendamos quando vemos o arco-íris)
A ro lè (Nele encontramos sua força)

A lè a lè a pà ra dà (Seu poder e sua força o permite ficar invisível)
A lè a lè apà ra o (Ele pode estar caminhando ao nosso lado sem que possamos vê-lo)

Wù lè ké wá o jó rí o (Cantamos para louvar sua força e agrada-lo. Venha dançar para que possamos vê-lo)
Wé wé ké (Rola, rola e dança)
Wá o jó rí o (Vem dançar para que possamos vê-lo)

Ké ké dá lè mi ìran lê wá (Cantamos, cantamos para que traga sua força até nós que somos sua família)
Ké ké dá lè mi ìran lê wá (Cantamos, cantamos para que traga sua força até nós que somos sua família)

Òsunmaré lè lê ma rì (Òsunmaré é poderoso)
Lè lê ma húwà ara ká (Ele pode enrolar o corpo com seu poder)
Lè lê ma rè Òsunmaré (Você é poderoso Òsunmaré)
Ko bé jijó (pedimos que dance indo até o chão)
Òsunmaré ko bé jijó (Òsunmaré, pedimos que dance indo até o chão)
Ara ká ko bé jijó (Pedimos que dance em torno de si mesma indo até o chão)

Lesse Orisà (Somos filhos de Orixá)
Lesse ko ma fò (Os filhos de Orixá mantém o chão sempre lavado)
Sá ro ho (Para que você possa dançar no chão e não se ferir)
Lesse Orisà (Somos filhos de Orixá)
Lesse ko ma fò (Os filhos de Orixá mantém o chão sempre lavado)
Sá ro ho (Para que você possa dançar no chão e não se ferir)

Òsunmaré ló ké rè Òsunmaré (Òsunmaré, cantamos para sua despedida
O ló ké rè (Cantamos para ele se despedir)

Òsunmaré se umbó (Òsunmaré está presente)
Se umbó (Está presente)
O se umbó (Ele está presente)

Wá là koró léhìn ni (Ele está escondido, venha para este lugar)
Wá là koró léhìn ni (Ele está escondido, venha para este lugar)

Òsunmaré ní fe run dá dán (Òsunmaré é uma luz brilhante que gostamos de ter)
Ní fé run dá dán (É uma luz brilhante que gostamos de ter)

O ba hàn si o kun (Mostre seu arco-íris e venha nos ajudar)
Àlejò, Àlejò (Venha nos visitar, venha nos visitar)
O ba hàn si o kun (Mostre seu arco-íris e venha nos ajudar)
Ba hàn, ba hàn si o kun (Mostre seu arco-íris e venha nos ajudar)
Suré, e suré (Nos abençoe, nos abençoe)
Ba hàn, ba hàn si o kun (Mostre seu arco-íris e venha nos ajudar)

Arò bó bò yí! Aké lè sí (Arò bó bò yí! Ele tem um machado para nos proteger)
O hun jé lè iko kun (Sua palha da costa é colorida (as cores representam seu poder)
U Vodun nos adó dé (Ele é Orixá e nos abençoa com adó (comida feita com pipoca e azeite doce)
Arò bó bò yí! Aké lè sí e u jé lè Vodun jé (Arò bó bò yí! Ele tem um machado para nos proteger e nos curvamos ao poder que tem esse Orixá)

E ara ká ló bó ro (Vosso corpo vai se enrolando até o chão)
Àwa dé wò (Nos curvamos para que nos abençoe)
Òsunmarè àwa dé wó (Osunmarè enrola o corpo e vai até o chão)
Vodun àwa dé wò (Curvamo-nos a este Orixá para que nos abençoe)
Òsunmarè o (Ele é Òsunmarè)

A ma rà ka lódódun (Uma vez ao ano nos curvamos)
Àtà te lówó (Na cumieira pedindo fartura para o ano todo)
Òsunmarè o (Para Òsunmarè)
A ma rà ka lódódun (Uma vez ao ano nos curvamos)
Àtà te lówó (Na cumieira pedindo fartura para o ano todo)
Òsunmarè o (Para Òsunmarè)

Òòni se wá (Orixá Rei da nação Yorubá venha nos ajudar)
Òòni se wá (Orixá Rei da nação Yorubá venha nos ajudar)
O dá bo (O Senhor nos orienta e nos ajuda)
Ajelé lù wè (Governador, venha nos consagrar)
Òrisà ta bè lò (Pedimos que nos ilumine)
Vodun tata un dé (Orixá chefe, cubra-nos)

E dan, dan, dan (Ele é uma serpente, serpente, serpente)
Jó árin da ji dan (Ele é uma serpente criada e dança e torno do asè.


VODUN DJEJE



Dangbé,O Dangbé é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.

Mawu é o Ser Supremo dos povos Ewe e Fon.

Lissá, que é masculino, e também co-responsável pela Criação.

Loko, É o primogênito dos voduns.dono da joia de mahi que e o rungbe

Gu, Vodun dos metais, guerra, fogo, e tecnologia.

Heviossô, Vodun que comanda os raios e relâmpagos.

Sakpatá, Vodun da varíola.

Dan, Vodun da riqueza, representado pela serpente do arco-íris.

Agué, Vodun da caça e protetor das florestas.

Agbê, Vodun dono dos mares.

Ayizan, Vodun feminino dona da crosta terrestre e dos mercados.

Agassu, Vodun que representa a linhagem real do Reino do Dahomey.

Aguê, Vodun que representa a terra firme.

Legba, O caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas e a sexualidade.

Fa , Vodun da adivinhação e do destino.

Aziri , vodun das águas doces.

Possun , vodun do po e da terra seca representado pelo tigre.

Bessem, É o dono das águas doces no Savalú, do qual é patrono.

Sogbô, Vodun do trovão da família de Heviossô.

Tobossi, Naê ou Mami Wata, são todas as Voduns femininas das ezins jeçuçu, jevivi e salobres.

Nanã, Vodun considera por todos os adeptos do Culto Vodun como a grande Mãe Universal.

Ritual

Na Nação Jeje existe a necessidade do poço (se não existir uma nascente nas terras), o ideal é um sítio com nascente, mata natural, plantas e animais.



Infelizmente nas casas urbanas isto já não é tão possível, pois as Casas cada vez mais diminuem de tamanho. Mas ainda assim toda casa Jeje deverá ter pelo menos um poço, um local reservado exclusivamente para as plantas e árvores necessárias ao culto, que chamamos "kpamahin", e alguns animais que são muito importantes para nós.



Voduns não usam roupas luxuosas não gostam de roupas de festa e geralmente preferem a boa e velha roupa de ração. As danças são cadenciadas em um ritmo mais denso e pesado. Os Voduns estão sempre de olhos abertos e salvo algumas exceções, conversam (usando preferencialmente um dialeto próprio) e dão conselhos a quem os procura.

A iniciação ao culto dos voduns é complexa, longa e pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetidos à uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.





Dan Bessén é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. Se um dia Oxumaré perder suas forças o mundo acabará, porque o universo é dinâmico e a Terra também se encontra em constante movimento. Imaginem só o planeta Terra sem os movimentos de translação e rotação; imaginem uma estação do ano permanente, uma noite permanente, um dia permanente. É preciso que a Terra não deixe de se movimentar, que após o dia venha a noite, que as estações do não se alterem, que o vapor das águas suba aos céus e caia novamente sobre a Terra em forma de chuva. Oxumaré não pode ser esquecido, pois o fim dos ciclos é o fim do mundo.
Oxumaré mora no céu e vem à Terra visitar-nos através do arco-íris. Ele é uma grande cobra que envolve a Terra e o céu e assegura a unidade e a renovação do universo.
Filho de Nanã Buruku, Oxumaré é originário de Mahi, no antigo Daomé, onde é conhecido como Dan. Na região de Ifé é chamado de Ajé Sàlugá, aquele que proporciona a riqueza aos homens. Teria sido um dos companheiros de Odudua por ocasião de sua chegada a Ifé.
Dizem que Oxumaré seria homem e mulher, mas, na verdade, este é mais um ciclo que ele representa: o ciclo da vida, pois da junção entre masculino e feminino é que a vida se perpetua. Oxumaré é um Orixá masculino.
Oxumaré é um deus ambíguo, duplo, que pertence à água e à terra, que é macho e fêmea. Ele exprime a união de opostos, que se atraem e proporcionam a manutenção do universo e da vida. Sintetiza a duplicidade de todo o ser: mortal (no corpo) e imortal (no espírito). Oxumaré mostra a necessidade do movimento da transformação.
Omulú é o irmão mais velho de Oxumaré, mas foi abandonado por sua mãe por ter nascido com o corpo coberto de chagas. Em tempo, não se pode condenar Nanã por esse acto, já que era um costume, quase uma obrigação ritual da época, que se abandonassem as crianças nascidas com alguma deformidade. O deus do destino disse a Nanã que ela teria outro filho, belíssimo, tão bonito quanto o arco-íris, mas que jamais ficaria junto dela. Ele viveria no alto, percorreria o mundo sem parar. Nasceu Oxumaré.
Oxumaré que fica no céu
Controla a chuva que cai sobre a terra.
Chega à floresta e respira como o vento.
Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida.
Características dos filhos de Oxumaré
São pessoas que tendem à renovação e à mudança. Periodicamente mudam tudo na sua vida (de maneira radical): mudam de casa, de amigos, de religião, de emprego; vivem rompendo com o passado e buscando novas alternativas para o futuro, para cumprir seu ciclo de vida: mutável, incerto, de substituições constantes.
São magras. Como as cobras possuem olhos atentos, salientes, difíceis de encarar, mas ‘não enxergam’. São pessoas que se prendem a valores materiais e adoram ostentar suas riquezas; São orgulhosas, exibicionistas, mas também generosas e desprendidas quando se trata de ajudar alguém.
Extremamente activas e ágeis, estão sempre em movimento e acção, não podem parar.
São pessoas pacientes e obstinadas na luta pelos seus objectivos e não medem sacrifícios para alcançá-los. A dualidade do orixá também se manifesta nos seus filhos, principalmente no que se refere às guinadas que dão nas suas vidas, que chegam a ser de 180 graus, indo de um extremo a outro sem a menor dificuldade. Mudam de repente da água para o vinho, assim como Oxumaré, o Grande Deus do Movimento.

Regências :

DIA: Terça-feira


CORES: Amarelo e verde (ou preto) e todas as cores do arco-íris

SÍMBOLOS: Ebiri, serpente, círculo, bradjá.


ELEMENTOS: Céu e terra


DOMÍNIOS: Riqueza, vida longa, ciclos, movimentos constantes.


SAUDAÇÃO: Aho Boboi!!!



Terreiro criado há 157 anos é tombado em Cachoeira



O mais novo bem cachoeirano considerado Patrimônio Cultural do Brasil teve seu tombamento aprovado em 4 de dezembro do ano passado.

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, homologou o tombamento do Terreiro Zogbodo Male Bogun Seja Unde, localizado no município de Cachoeira, no Recôncavo baiano. Também conhecido como Roça do Ventura, o terreiro começou a ocupar o espaço em 1858, portanto, há 157 anos. O espaço é responsável pela preservação de uma das tradições religiosas de matriz africana, da liturgia do candomblé de nação jeje-mahi, originária nos cultos às divindades chamadas vodum.


O Seja Unde tem fundamental importância na formação da rede de terreiros do Recôncavo e para a formação do camdomblé como religião. A solicitação para o tombamento da casa de candomblé matricial de tradição jeje-mahi foi feita pela então presidente da Sociedade Religiosa Zogbodo Male Bogun Seja Unde, Alaíde Augusta da Conceição, a veneranda vodunce Alaíde de Oyá, em dezembro de 2008 e reiterada, em 2009, pelo atual presidente da Sociedade Religiosa Zogbodo Male Bogun Seja Unde e ogã da casa, Edvaldo de Jesus Conceição, o Buda.
O mais novo bem cachoeirano considerado Patrimônio Cultural do Brasil teve seu tombamento aprovado em 4 de dezembro do ano passado, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, reunido na sede do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Nacional (Iphan), em Brasília. A portaria com a homologação da decisão foi publicada ontem, no Diário Oficial da União.
O terreiro Zogbodo abrange um sítio natural e elementos edificados, além de árvores referenciais dos ritos do candomblé. As ‘árvores sagradas’ existentes no local são Nana, Tiriri, Ogum Eroquê, Avequité, Zogbo, Bessém, Ogum, Ajuzum, Lokó, Badé, Aqué e Parara.

Zezinho da Boa Viagem ( Meu Avô de Santo )




José Gomes de Lima, popularmente conhecido e respeitado por Pai  Zézinho da Boa Viagem, foi iniciado no Candomblé pelas mãos de Tata Fomutinho em 26 de Julho de 1943, 
para o Òrìsá Òsún, dando sua obrigação de sete anos em 14 de Outubro de 1961, fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, 
São João de Meriti, no Rio de Janeiro.

O Povo de Djeje perde um grande Sacerdote e um Ícone dentro das religiões de matriz africana. Lastimável perda para toda a família candomblecista!









 "Até aqui viajamos juntos.
 Passaram vilas e cidades, cachoeiras e rios, bosques e florestas... 
Não faltaram os grandes obstáculos. 
Freqüentes foram as cercas, ajudando a transpor abismos... 
As subidas e descidas foram realidade sempre presente. 
Juntos, percorremos retas, nos apoiamos nas curvas, descobrimos cidades... 
Chegou o momento de cada um seguir viagem sozinho... 
Que as experiências compartilhadas
 no percurso até aqui sejam a alavanca para 
alcançarmos a alegria de chegar ao destino projetado. 
A nossa saudade e a nossa esperança de um reencontro aos que, por vários 
motivos, nos deixaram, seguindo outros caminhos. 
O nosso agradecimento àqueles que, mesmo de fora, 
mas sempre presentes, nos 
quiseram bem e nos apoiaram nos bons e nos maus momentos. 
Dividam conosco os méritos desta conquista, porque ela também pertence a 
vocês. Uma despedida é necessária antes de
 podermos nos encontrar outra vez. 


Que nossas despedidas sejam um eterno reencontro."



Zezinho da Boa Viagem
Veio a falecer em 21 de Março de 2011 por causa de uma parada cardíaca e falência múltipla dos órgãos em seu apartamento no bairro Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro.
Deixou inúmeros filhos de santo que perpetuam o axé Djedje Mahim, e que são expoentes e referência da religião em todo Brasil bem como: Mãe Ana Maria de Bessen (herdeira do axé), Doté Antônio D'Amaralina, Doté Luiz de Jagun (in memorian), Dotés Jorges de Odé, Ekedy Joyce d'Ogun, Doté Paulo de Odé, Doté Nelson de Logun, Doté Dirceu de Oxalá (in memorian), Ogã Alexandre Cobra, Carlos de Togbô, Ogã Adilson d'Oxalá, Doté Jorge d'Oxaguian, Doté Álvaro de Iansã, Doté Kamussengue (in memorian), Doté Luiz Sérgio d'Azansú, Ekedji Fly d'Osun, Pai Israel d'Averekety, Mãe Vilma de Obaluaiyé, Mãe Cristina d'Osun, Ogan Vagner de Ogun, Mãe Jurema de Bessen, Mãe Isabel de Odé, Ekedy Marcella de Osun, Doté Aluizio de Azansú, Doté ávio de Obaluwaye, Mãe Lurdes de Oxalufan,


Doté Gilberto de Legbára, ( meu pai de santo ) etc.

Os Orixás e a Natureza

Os Orixás e a Natureza
Reginaldo Prandi
Universidade de São Paulo



Na aurora de sua civilização, o povo africano mais tarde conhecido pelo nome de iorubá, chamado de nagô no Brasil e lucumi em Cuba, acreditava que forças sobrenaturais impessoais, espíritos, ou entidades estavam presentes ou corporificados em objetos e forças da natureza. Tementes dos perigos da natureza que punham em risco constante a vida humana, perigos que eles não podiam controlar, esses antigos africanos ofereciam sacrifícios para aplacar a fúria dessas forças, doando sua própria comida como tributo que selava um pacto de submissão e proteção e que sedimenta as relações de lealdade e filiação entre os homens e os espíritos da natureza.
Muitos desses espíritos da natureza passaram a ser cultuados como divindades, mais tarde designadas orixás, detentoras do poder de governar aspectos do mundo natural, como o trovão, o raio e a fertilidade da terra, enquanto outros foram cultuados como guardiões de montanhas, cursos d'água, árvores e florestas. Cada rio, assim, tinha seu espírito próprio, com o qual se confundia, construindo-se em suas margens os locais de adoração, nada mais que o sítio onde eram deixadas as oferendas. Um rio pode correr calmamente pelas planícies ou precipita-se em quedas e corredeiras, oferecer calma travessia a vau, mas também mostra-se pleno de traiçoeiras armadilhas, ser uma benfazeja fonte de alimentação piscosa, mas igualmente afogar em suas águas os que nelas se banham. Esses atributos do rio, que o torna ao mesmo tempo provedor e destruidor, passaram a ser também o de sua divindade guardiã. Como cada rio é diferente, seu espírito, sua alma, também tem características específicas. Muitos dos espíritos dos rios são homenageados até hoje, tanto na África, em território iorubá, como nas Américas, para onde o culto foi trazido pelos negros durante a escravidão e num curto período após a abolição, embora tenham, com o passar do tempo, se tornado independentes de sua base original na natureza. São eles Iemanjá, divindade do rio Ogum, Oiá ou Iansã, deusa do rio Níger, assim como Oxum, Obá, Euá, Logum Edé, Erinlé e Otim, cujos rios conservam ainda hoje o mesmo nome de sua divindade. No Brasil, assim como em Cuba, Iemanjá ganhou o patronato do mar, que na África pertencia a Olocum, enquanto os demais orixás de rio deixaram de estar referidos a seus cursos d'água originais, ganhando novos domínios, cabendo a Oxum o governo dos rios em geral e de todas as águas doces.
A economia desses povos desenvolveu-se com base na agricultura, caça, pesca e artesanato, com intensa e importante atividade comercial concentrada nos mercados das cidades, para onde acorria a produção das diferentes aldeias e cidades. Podemos ver nessa sociedade em formação um deslocamento dos orixás do plano dos fenômenos da natureza para o plano da divisão social do trabalho, assumindo os orixás a característica de guardiões de atividades essenciais para a vida em sociedade. O culto às divindades continuou sendo local, podendo a mesma atividade ser guardada por deuses locais distintos. Só muito mais tarde alguns orixás foram elevados à categoria de orixás nacionais. Assim, na agricultura encontramos o culto a Ogum e Orixá-Ocô, enquanto as atividades de caça estavam guardadas por Oxóssi, Logum Edé, Erinlé, e muitos outros orixás caçadores conhecidos genericamente pelo nome de Odé, que significa Caçador. No Brasil, onde a geografia africana deixou de ter sentido, alguns orixás de rio, como Logum e Erinlé, ficaram restritos à caça, embora se faça referência também a seus atributos de pescadores, especialmente no caso de Logum Edé.
No caso de Ogum, há uma relação direta entre a agricultura e o artesanato do ferro, que permitiu a produção das ferramentas agrícolas, o mesmo ferro com que se fazem as armas de guerra, faca, facão, espada, e que transformou Ogum no deus da metalurgia e da guerra, numa emblemática expansão de um culto que se iniciou em referência ao plano da natureza (o ferro) para depois se fixar no domínio das atividades humanas (agricultura, metalurgia, guerra). A importância do minério extraído da natureza define-se por sua aplicação na cultura e leva à constituição de um culto que ao mesmo tempo deseja propiciar as forças sobrenaturais para garantir o acesso ao minério e o sucesso nas atividades que usam artefatos com ele produzidos. Quanto mais o trabalho se especializava, mais o orixá se liberava do mundo natural e mais próximo se situava do mundo do trabalho, isto é, do mundo da cultura, das atividades sociais, do mundo do homem, enfim.
A antiga religião de caráter animista, ou seja, de crença de que cada objeto do mundo em que vivemos é dotado de um espírito, em algum momento primordial fundiu-se-se com o culto dos antepassados. Podemos definir o culto dos antepassados como o conjunto de crenças, mitos e ritos que regulam os vínculos de uma comunidade com um número grande de mortos que viveram nessa comunidade e que estão ligados a ela por parentesco, segundo linhagens familiares, acreditando-se que os mortos têm o poder de interferir na vida humana, devendo então ser propiciados, aplacados por meio das práticas sacrificiais para o bem-estar da comunidade. Através do sacrifício, o antepassado participa da vida dos viventes, compartilhando com eles o fruto do sucesso das colheitas, das caçadas, da guerra e assim por diante. Embora todo morto mereça respeito e sacrifício, são os mortos ilustres os que se colocam no centro do culto. São os fundadores das antigas linhagens familiares, os heróis conquistadores, fundadores de cidades, o que inclui os falecidos pertencentes à família real, especialmente o rei. Alguns antepassados, sobretudo os de famílias e cidades que lograram expandir seu poder e seu domínio além de seus muros, acabaram sendo hevemerizados, isto é, deificados, ocupando no universo religioso o mesmo status de um orixá da natureza, muitas vezes confundindo-se com eles. Assim, Xangô é ao mesmo tempo o orixá do trovão, que rege as intempéries, e o antepassado mítico hevemerizado que um dia teria sido o quarto rei da cidade de Oió. Como rei, é o regulador das atividades ligadas ao governo do mundo profano, do qual é o magistrado máximo, assumindo assim, o patronato da justiça. Muitos reis, míticos ou não, foram alçados à dignidade de orixá. Por outro lado, muitos orixás que já mereciam culto ganharam também a conotação de antepassado, especialmente como reis. Como ocorreu com Ogum, lembrado como rei de Irê e Oxaguiã, rei de Ejibô, entre outros.
Confrarias de sacerdotes especializados também se organizaram em função de divindades relacionadas a atividades mágico-religiosas específicas, como os adivinhadores ou babalaôs, reunidos no culto de Orunmilá ou Ifá, o deus do oráculo, e os curadores herbalistas, ou olossains, dedicados a Ossaim, o orixá que detém o poder curativo das plantas. Tanto Orunmilá como Ossaim tiveram culto nacional em território iorubá, uma vez que seus sacerdotes ofereciam seus serviços a todos os que deles precisassem, não estando suas atividades circunscritas aos cultos familiares ou de cidades. Exu, orixá do mercado e da comunicação entre os deuses e entre estes e os humanos, também ganhou culto sem fronteiras familiares ou citadinas. Com a expansão política de algumas cidades e a incorporação de outros territórios, deuses locais passaram a ter um culto mais generalizado, o que transformou Xangô num deus cultuado em todo o território controlado por Oió, que teve o maior dos impérios iorubás. Iemanjá, originalmente uma divindade ebgá de rio, cultuada em território de Abeocutá, transformou-se em objeto do culto às ancestrais femininas, sendo homenageada no início dos festejos dedicados às grandes mães ancestrais no festival Geledé, cuja celebração envolve várias cidades.
Através da instituição do culto aos antepassados, os antigos iorubás estabeleceram as bases míticas de sua própria origem como povo, deificando seus mais antigos heróis, fundadores de cidades e impérios, aos quais se atribuiu a criação não somente do povo iorubá como de toda a humanidade. Dá-se assim a gênese do orixá Odudua, rei e guerreiro, considerado o criador da Terra, e de Obatalá, também chamado Orixanlá e Oxalá, o criador da humanidade, além de muitos outros deuses que com eles fazem parte do panteão da criação, como Ajalá e Oxaguiã.
O contato entre os povos africanos, tanto em razão de intercâmbio comercial como por causa das guerras e domínio de uns sobre outros, propiciou a incorporação pelos iorubás de divindades de povos vizinhos, como os voduns dos povos fons, chamados jejes no Brasil, entre os quais se destaca Nanã, antiga divindade da terra, e Oxumarê, divindade do arco-íris. O deus da peste, que recebe os nomes de Omulu, Olu Odo, Obaluaê, Ainon, Sakpatá e Xamponã ou Xapanã, resultou da fusão da devoção a inúmeros deuses cultuados em territórios iorubá, fon e nupe. As transformações sofridas pelo deus da varíola, descritas por Claude Lépine (1998), até sua incorporação ao panteão contemporâneo dos orixás, mostra a importância das migrações e das guerras de dominação na vida desses povos africanos e seu papel na constituição de cultos e conformação de divindades.
Quanto mais os orixás foram se afastando da natureza, mais foram ganhando forma antropomórfica. Os mitos falam de deuses que pensam e agem como os humanos, com os quais partilham sentimentos, propósitos, comportamentos e emoções. Seus patronatos especializaram-se em aspectos da cultura e da vida em sociedade que melhor atendiam às necessidades individuais dos seus devotos, embora possam manter referências ao original mundo natural.
II
Com a vinda para as Américas, ao processo de antropormofização e mudança ou diversificação do patronato adicionou-se a unificação do panteão, passando orixás de diferentes localidades a ser cultuados juntos nos mesmos locais de culto, no caso do Brasil, os terreiros de candomblé, ocorrendo mais forte especialização na divisão do trabalho dos deuses guardiões. Assim, Iemanjá, agora rainha do mar, é a protetora da maternidade e do equilíbrio mental; Oxum ganha as águas doces e a prerrogativa de governar a fertilidade humana e o amor; Ogum governa o ferro e a guerra, mas também é aquele que abre todos os caminhos e oportunidades sociais; Xangô, orixá do trovão, é o dono da justiça. E assim por diante. Como a religião dos orixás foi refeita no Brasil por africanos ou descendentes que, no século XIX, viviam nas grandes cidades costeiras, ocupando-se em atividades urbanas, fossem eles escravos ou livres, a preocupação com atividades agrícolas era muito secundária, de sorte que os orixás do campo foram esquecidos ou tiveram seus governos reorganizados. O culto a Orixá-Ocô se perdeu e hoje raramente alguém se lembra de Ogum como orixá do campo. Também os orixás da caça perderam com a nova sociedade. Oxóssi ganhou a responsabilidade de zelar pela fartura de alimentos, mas não há mais caçadores para cultuá-lo e muitos Odés foram reagrupados no culto de Oxóssi, como ocorreu com Erinlé e Otim. O grande papel de Oxóssi no Brasil na verdade decorre de sua condição de patrono da nação queto, instituída com a fundação dos candomblés baianos Casa Branca do Engenho Velho, Gantois e Axé Opô Afonjá, e que é uma referência à cidade africana de Queto, hoje situada no Benin, da qual Oxóssi era o orixá da casa real e onde atualmente está praticamente esquecido. Mudanças recentes nas condições de vida, inclusive em termos de saúde pública, fizeram de Omulu o médico dos pobres brasileiros, mas hoje ele está longe de ser cultuado por causa da varíola, seu domínio original, praticamente eliminada em nossa sociedade.
No Brasil, com a concentração do culto aos orixás nos terreiros, sob a autoridade suprema do pai ou mãe-de-santo, antigas confrarias africanas especializadas desapareceram, uma vez que o pai-de-santo passou a controlar toda e qualquer atividade religiosa desenvolvida nos limites de sua comunidade de culto. Os orixás dessas confrarias foram esquecidos ou se transformaram. Assim, com a extinção dos babalaôs, os sacerdotes do oráculo, o culto a Orunmilá praticamente desapareceu, subsistindo marginalmente em alguns poucos terreiros pernambucanos. O oráculo, agora prerrogativa do chefe de cada terreiro passou a ser guardado por Exu e Oxum, que na África já eram estreitamente ligados às atividades de adivinhação. A confraria dos curadores herbalistas, os olossains, também não se manteve nos moldes africanos, ficando os olossains restritos às atribuições de colher folhas e cantar para sua sacralização, tendo perdido para o pai-de-santo as prerrogativas do curador. Em decorrência, o culto de Ossaim ganhou novas feições, ficando mais assemelhado ao culto dos outros orixás celebrados nos terreiros, podendo inclusive ser recebido em transe como os demais, o que não acontecia na África. Espíritos das velhas árvores foram antropormofizados e iroco, que na África é simplesmente o nome de uma grande árvore, aqui se transformou no orixá Iroco, que recebe oferendas na cameleira branca e desce em transe, ganhando, cada vez mais, independência em relação à árvore, situando-se, por conseguinte, mais longe da natureza.
O desenvolvimento científico e tecnológico, ao promover a expansão do controle da natureza pelo homem, controle que vai desde a previsão das intempéries e catástrofes naturais até a obtenção da fecundação in vitro, passando pela cura da maioria das moléstias, garantindo a redução das taxas de mortalidade infantil, afastando as endemias e epidemias, aumentando a esperança de vida, tudo isso foi desviando cada vez mais o olhar do homem religioso da natureza, uma vez que esta já o preocupa menos, representando menos riscos, menos perigo. Diferentes povos tiveram diferentes preocupações com a natureza. Os iorubás, como povo da floresta, pouco se interessaram pelos astros, que ocuparam posição importante nos sistemas religiosos de povos que viviam em lugares abertos e altos. Para os iorubás, as florestas e os rios eram mais importantes que a lua ou as estrelas. Sua semana de quatro dias não tem relação com as fases da lua, que em muitos povos originou a semana de sete dias. Habitando o interior, longe do mar, lhes faltou certamente a observação da maré associada às fases da lua para estabelecer um calendário lunar. A morada dos deuses e dos espíritos dos iorubás, emblematicamente, não fica no céu, mas sob a superfície da terra.
No Brasil, as referências à natureza foram, contudo, simbolicamente mantidas nos altares sacrificiais, que são os assentamentos dos orixás e em muitos outros elementos rituais. Desse modo, como a África, seixos provenientes de algum curso d'água não podem faltar no assentamento dos orixás de rio, confundindo-se as pedras com os próprios orixás. Pedaços de meteoritos, as pedras de raio do assento de Xangô, lembram a identificação deste orixá com o raio e o trovão. Objetos de ferro são usados para o assentamento de Ogum. E assim por diante. O candomblé também conserva a idéia de que as plantas são fonte de axé, a força vital sem a qual não existe vida ou movimento e sem a qual o culto não pode ser realizado. A máxima iorubá "kosi ewê kosi orixá", que pode ser traduzida por "não se pode cultuar orixás sem usar as folhas", define bem o papel das plantas nos ritos. As plantas são usadas para lavar e sacralizar os objetos rituais, para purificar a cabeça e o corpo dos sacerdotes nas etapas iniciáticas, para curar as doenças e afastar males de todas as origens. Mas a folha ritual não é simplesmente a que está na natureza, mas aquela que sofre o poder transformador operado pela intervenção de Ossaim, cujas rezas e encantamentos proferidos pelo devoto propiciam a liberação do axé nelas contido. Há algumas décadas a floresta fazia parte do cenário do terreiro de candomblé e as folhas estavam todas disponíveis para colheita e sacralização. Com a urbanização, o mato rareou nas cidades, obrigando os devotos a manter pequenos jardins e hortas para o cultivo das ervas sagradas ou então se deslocar para sítios afastados, onde as plantas podem crescer livremente. Com o passar do tempo, novas especializações foram surgindo no âmbito da religião e hoje as plantas rituais podem ser adquiridas em feiras comuns de abastecimento e nos estabelecimentos que comercializam material de culto. Exemplo maior, no Mercadão de Madureira, no subúrbio do Rio de Janeiro, pródigo na oferta de objetos rituais, vestimentas e ingredientes para o culto dos orixás, mais de vinte estabelecimentos vendem, exclusivamente, toda e qualquer folha necessária aos ritos de Ossaim. Bem longe da natureza.
Embora a concepção de orixá esteja hoje bem distante da natureza, muitas celebrações se fazem em locais que lembram as antigas ligações, como as festas de Iemanjá junto ao mar, como os depachos feitos na água corrente, na lagoa, no mato, na pedreira, na estrada etc., de acordo com o orixá a que se destinam. Com a recente preocupação com o meio ambiente, o candomblé tem sido muito lembrado como religião da natureza, apontando-se muitos terreiros como modelares na preservação ambiental. Alguns líderes, de fato, tem procurado se engajar em movimentos preservacionistas, alertando os seguidores dos orixás da necessidade de se defender da poluição ambiental locais usados pela religião, como cachoeiras e fontes, lagos e bosques. Alguns defendem a necessidade do próprio candomblé deixar de usar nas oferendas feitas fora do terreiro e nos despachos material não biodegradável.





III
Nesse clima de "retorno ao mundo natural", de preocupação com a ecologia, um orixá quase inteiramente esquecido no Brasil vem sendo aos poucos recuparado. Trata-se de Onilé, a Dona da Terra, o orixá que representa nosso planeta como um todo, o mundo em que vivemos. O mito de Onilé pode ser encontrado em vários poemas do oráculo de Ifá, estando vivo ainda hoje, no Brasil, na memória de seguidores do candomblé iniciados há muitas décadas. Assim a mitologia dos orixás nos conta como Onilé ganhou o governo do planeta Terra:
Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare.
Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via.
Quase nem se sabia de sua existência.
Quando os orixás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai
para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões,
Onilé fazia um buraco no chão e se escondia,
pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa,
com muita música e dança ao ritmo dos atabaques.
Onilé não se sentia bem no meio dos outros.
Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem:
haveria uma grande reunião no palácio
e os orixás deviam comparecer ricamente vestidos,
pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo
e depois haveria muita comida, música e dança.
Por todo os lugares os mensageiros gritaram esta ordem
e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento.
Quando chegou por fim o grande dia,
cada orixá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação,
cada um mais belamente vestido que o outro,
pois este era o desejo de Olodumare.
Iemanjá chegou vestida com a espuma do mar,
os braços ornados de pulseiras de algas marinhas,
a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas,
o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola.
Oxóssi escolheu uma túnica de ramos macios,
enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais.
Ossaim vestiu-se com um manto de folhas perfumadas.
Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante,
enfeitada com tenras folhas de palmeira.
Oxum escolheu cobrir-se de ouro,
trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios.
As roupas de Oxumarê mostravam todas as cores,
trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva.
Iansã escolheu para vestir-se um sibilante vento
e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade.
Xangô não fez por menos e cobriu-se com o trovão.
Oxalá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão
e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio.
E assim por diante.
Não houve quem não usasse toda a criatividade
para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita.
Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo.
Cada orixá que chegava ao palácio de Olodumare
provocava um clamor de admiração,
que se ouvia por todas as terras existentes.
Os orixás encantaram o mundo com suas vestes.
Menos Onilé.
Onilé não se preocupou em vestir-se bem.
Onilé não se interessou por nada.
Onilé não se mostrou para ninguém.
Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão.
Quando todos os orixás haviam chegado,
Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente,
sentados em esteiras dispostas ao redor do trono.
Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos.
Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo
e que estavam tão bonitos que ele não saberia
escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo.
Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles,
mas nem sabia como começar a distribuição.
Então disse Olodumare que os próprios filhos,
ao escolherem o que achavam o melhor da natureza,
para com aquela riqueza se apresentar perante o pai,
eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo.
Então Iemanjá ficava com o mar,
Oxum com o ouro e os rios.
A Oxóssi deu as matas e todos os seus bichos,
reservando as folhas para Ossaim.
Deu a Iansã o raio e a Xangô o trovão.
Fez Oxalá dono de tudo que é branco e puro,
de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação.
Destinou a Oxumarê o arco-íris e a chuva.
A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele,
inclusive a guerra.
E assim por diante.
Deu a cada orixá um pedaço do mundo,
uma parte da natureza, um governo particular.
Dividiu de acordo com o gosto de cada um.
E disse que a partir de então cada um seria o dono
e governador daquela parte da natureza.
Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade
relacionada com uma daquelas partes da natureza,
deveria pagar uma prenda ao orixá que a possuísse.
Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa
que fosse da predileção do orixá.
Os orixás, que tudo ouviram em silêncio,
começaram a gritar e a dançar de alegria,
fazendo um grande alarido na corte.
Olodumare pediu silêncio,
ainda não havia terminado.
Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições.
Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra,
o mundo no qual os humanos viviam
e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais
que deveriam ofertar aos orixás.
Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra.
Quem seria? perguntavam-se todos?
"Onilé", respondeu Olodumare.
"Onilé?" todos se espantaram.
Como, se ela nem sequer viera à grande reunião?
Nenhum dos presentes a vira até então.
Nenhum sequer notara sua ausência.
"Pois Onilé está entre nós", disse Olodumare
e mandou que todos olhassem no fundo da cova,
onde se abrigava, vestida de terra, a discreta e recatada filha.
Ali estava Onilé, em sua roupa de terra.
Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta.
Olodumare disse que cada um que habitava a Terra
pagasse tributo a Onilé,
pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa.
A humanidade não sobreviveria sem Onilé.
Afinal, onde ficava cada uma das riquezas
que Olodumare partilhara com filhos orixás?
"Tudo está na Terra", disse Olodumare.
"O mar e os rios, o ferro e o ouro,
Os animais e as plantas, tudo", continuou.
"Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris,
tudo existe porque a Terra existe,
assim como as coisas criadas para controlar os homens
e os outros seres vivos que habitam o planeta,
como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte".
Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé,
foi a sentença final de Olodumare.
Onilé, orixá da Terra, receberia mais presentes que os outros,
pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos,
pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem.
Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre,
para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído.
Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare.
Todos os orixás aclamaram Onilé.
Todos os humanos propiciaram a mãe Terra.
E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orixás[1].

Cultuada discretamente em terreiros antigos da Bahia e em candomblés africanizados, a Mãe Terra desperta curiosidade e interesse entre os seguidores dos orixás, sobretudo entre aqueles que compõem os seguimentos mais intelectualizados da religião. Onilé é assentada num montículo de terra vermelha e acredita-se que guarda o planeta e tudo que há sobre ele, protegendo o mundo em que vivemos e possibilitando a própria vida. Na África, também é chamada Aiê e Ilê, recebendo em sacrifício galinhas, caracóis e tartarugas (Abimbola, 1977: 111). Onilé, isto é, a Terra, tem muitos inimigos que a exploram e podem destruí-la. Para muitos seguidores da religião dos orixás, interessados em recuperar a relação orixá-natureza, o culto de Onilé representaria, assim, a preocupação com a preservação da própria humanidade e de tudo que há em seu mundo.

Referências bibliográficas

ABIMBOLA, Wande. Ifá Divination Poetry. Nova York, Londres e Ibadan, Nok Publishers, 1977.
Ifá Will Mend our Broken World: Thoughts on Yoruba Religion and Culture in Africa and the Diaspora. Roxbury, Massachusetts, Aim Books, 1997.
LÉPINE, Claude. As metamorfoses de Sakpatá, deus da varíola. In: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (org.). Leopardo dos olhos de fogo. São Paulo, Ateliê Editorial, 1998.
[1] Narrado pelo oluô Agenor Miranda Rocha, em pesquisa de campo no Rio de Janeiro, em 1999. Fragmentos em Wande Abimbola, 1977, pp. 111; 1997, pp. 67-68. In: Reginaldo Prandi, Mitologia dos orixás. São Paulo, USP, 1999, inédito.

Documentário interessante sobre o Candomblé

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Xirê de Todos os Orixás (De Exu a Oxalá)
















A História das Casas de Santo do Candomblé no Brasil

Casa Branca-Engenho Velho

Ilê Axé Iya Nassô Oká / Terreiro da Casa Branca
Casa Branca do Engenho Velho , Sociedade São Jorge do Engenho Velho ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká é considerada a primeira casa de candomblé aberta em Salvador , Bahia .
"Terreiro da Casa Branca contituído de uma área de aproximadamente 6.800 m2, com as edificações, árvores e principais objetos sagrados, situado na Avenida Vasco da Gama s/nº, em Salvador, Bahia". Texto do tombamento Terreiro Casa Branca , realizado em 14/8/1986 pelo IPHAN.
História
Coroa do poste central
A história da Casa Branca do Engenho Velho foi contada na III Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura , realizado em Nova York , pelo representante oficial da Casa Branca, José Abade de Oliveira , Ótun Olu K'otun Jagun.
Ilê Axé Iya Nassô Oká / Terreiro da Casa Branca
No período da escravidão no Brasil, os negros formavam suas comunidades nos engenhos de cana. Na Bahia, princesas, na condição de escravas, vindas de Oyó e Keto , fundaram um centro num engenho de cana. Depois se agruparam num local denominado Barroquinha, onde fundaram uma comunidade de Nagô , que segundo historiadores, remonta mais ou menos 300 anos de existência.
Sabe-se que esta comunidade fora fundada por três negras africanas cujos nomes são: Adetá ou Iya Detá, Iya Kalá e Iya Nassô . Não se tem certeza de quem plantou o Axé , porém o Engenho Velho se chama Ilé Iya Nassô Oká .
O Ilé Iya Nassô funcionava numa Roça na Barroquinha, dentro do perímetro urbano de Salvador .
Os africanos que se encontravam alí, lugar deserto naquela época, porém próximo ao Palácio de sua Real Magestade, tiveram receio da intervenção das autoridades no seu Culto, daí, Iya Nassô resolveu arrendar terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo, no trecho chamado Joaquim dos Couros, lugar onde se encontra até hoje, estabelecendo aí o primeiro Terreiro de Culto Africano na Bahia.
À Iya Nassô, sucedeu Iya Marcelina ( esse foi o conflito que faz nascer o terreiro do gantois ). Após a morte desta, duas das suas filhas, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iya Kekeré) tomar a posse de Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se com as demais discidentes e fundaram outra Ilé Axé, o ( Terreiro do Gantois ).
Substituiu Maria Júlia Figueiredo na direção do Engenho Velho, a Mãe Sussu (Ursulina de Figueiredo). Com a sua morte nova divergência foi criada entre suas filhas, Sinhá Antonia, substituta legal de Sussu, por motivos superiores não podia tomar a chefia do Candomblé, em consequência o lugar de Mãe foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição).
Vencendo o partido da Ordem, os discidentes inconformados fundaram então uma outra Ilé Axé, o ( Opó Afonjá ). Talvez seja oportuno abrir um parêntese. O explanador é sobrinho de Sinhá Antonia e Ogan de Oxaguian da Tia Massi.
Maximiana Maria da Conceição, Tia Massi foi sucedida por Maria Deolinda , Mãe Oké . A direção sacerdotal do Engenho Velho foi posteriormente confiada à Marieta Vitória Cardoso, Oxum Niké , recentemente desaparecida.
Atualmente, assumiu a chefia da Casa, a Iya Lorixá Altamira Cecília dos Santos , filha legítima de Maria Deolinda.

O Terreiro

Poste central do barracão
O Terreiro é de Oxossi e o Templo principal é de Xangô. O Barracão que tem o nome de Casa Branca, é uma edificação alongada com várias divisões internas que encerram residências das principais pessoas do Terreiro, como também espaços reservados aos quartos de Orixás, quarto de Axé, Salão onde se realizam as festas públicas, bem como a cozinha onde se preparam as comidas sagradas. Uma bandeira branca hasteada no Terreiro indica o carater sagrado deste espaço. No telhado do Barracão, símbolos de Xangô identificam o Patrono do Templo.
O terreno fica situado numa encosta que se estende até uma cota de 30.00m com declividade de 30%, no lado direito da atual Av. da Gama, no sentido de progressão para o Rio Vermelho, entre as Ladeiras Manoel do Bonfim e do Bogun, na Unidade Espacial C-5 em Salvador - Bahia. Ocupa uma área de 6.000m². Tem como endereço, Av. Vasco da Gama, 463. Em redor do Barracão existem várias casas de Orixás.
Situação atual
No iníco, as atividades do Ilé Axé sofreram perseguições da Sociedade e por parte da Polícia. Já no período da República, o candomblé fora proibido de exercer as suas atividades e os Terreiros ficaram subjugados à Delegacia de Jogos, Entorpecentes e Lenocínio.
Hoje porém a situação é diferente. Existe na Prefeitura de Salvador, o Projeto MAMNBA da Pro-Memória, sob a direção do Antropólogo Ordep José Trindade Serra, cujo objetivo é proceder o Mapeamento de Sítios e Monumentos Religiosos Negros na Bahia.
Em 14 de junho do corrente ano, o Ministério da Cultura, a Prefeitura Municipal de Salvador e o Ministério da Relações Exteriores, em conjunto lançaram oito postais sobre a Ilé Axé Iya Nassô Oká e a revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional publicou - A Coroa de Xangô no Terreiro da Casa Branca - em separata do número 21/1986. Chegou então a hora da proteção a todos os Terreiros de Candomblé do Estado. Língua Yorubá nos Currículos de 1º e 2º graus.
Diante da solicitação da Socidade Beneficente São Jorge do Engenho Velho, conforme fundamentação e comprovação firmada pelo presidente, Sr. Antonio Agnelo Pereira, cultor de etnografia afro e diplomado em Língua Yorubá pelo Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia, o Conselho Estadual de Educação aprovou introdução da Língua Yorubá nos Currículos de 1º e 2º Graus nos Colégios de Rêde de Ensino do Estado.
O Ilé Axé Iya Nassô é o 1º Templo de Culto Religioso Negro no Brasil - Casa Branca do Engenho Velho.
É o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984 (Tombamento do Terreiro do Engenho Velho).
Antes disso, em 1982, o Terreiro já havia sido tombado como Patrimônio da Cidade do Salvador 1ª Capital do Brasil.
Em 1985 o Terreiro do Engenho Velho foi considerado Axé Especial de preservação Cultural do Município de Salvador.
A Sociedade São Jorge do Engenho Velho, representante legal da Comunidade do Ilé Axé Iya Nassô Oká foi considerada de utilidade pública Municipal e Estadual. É Membro do Conselho Geral do Memorial Zumbi .
Atualmente está feito o Plano de preservação do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho e prepara-se o Projeto de Recuperação da área em convênio com o Ministério da Cultura e a Prefeitura Municipal do Salvador.
O Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, mais antigo do Brasil, tem como Iyalorixá a Venerável Altamira Cecília dos Santos , secundada pelas veneráveis Iya Kekeré Juliana da Silva Baraúna e Otun Iya Kekeré Areonite Conceição Chagas .
Possui um vasto Colégio Sacerdotal composto pelas Iya bomin, Ogans e Olossés, além de muitas Iyaôs e Abians. Deu origem a inúmeros Templos Afro-Brasileiros .
Em nome da Iyalorixá e de todo o Corpo sacerdotal do Terreiro, transmitimos nossas saudações aos irmãos negros dos Estados Unidos e de todo o Mundo, em primeiro lugar. Abraçamos também os Povos e Nações existentes no Continente Americano e todos os Homens de boa vontade pela Paz e Igualdade de todos.

Sacerdotisas

  • Iyá Nassô
Iyá Nassô - africana considerada uma das fundadoras da primeira casa de candomblé em Salvador , e a primeira Iyalorixá da Casa Branca-Engenho Velho .
Maria Júlia Figueiredo - filha de sangue de Iyá Nassô , a fundadora do candomblé da Barroquinha e responsável por trazer o culto de Xangô para a Bahia .
  • Ursulina de Figueiredo
  • Maximiana Maria da Conceição
  • Maria Deolinda
  • Marieta Vitória Cardoso
  • Altamira Cecília dos Santos
Altamira Cecília dos Santos ou Mãe Tata - filha legítima de Maria Deolinda , é a atual Iyalorixádo Ilê Axé Iyá Nassô

Sociedade Beneficente e Recreativa

A Sociedade Beneficente e Recreativa São Jorge do Engenho Velho que representa o candomblé da Casa Branca, foi fundada a 25 de julho de 1943, registrada no Cartório Especial de Títulos e Documentos em 2 de maio de 1945 sob nº 15.599, declarada de utilidade pública pela Lei Municipal 759 de 31 de dezembro de 1956, é regida por Estatuto e tem personalidade jurídica.
Sua Diretoria é composta por um presidente, um vice, 1º e 2º secretário, 1º e 2º tesoureiro. Assembléia geral, com presidente, 1º e 2º secretários. Comissão fiscal, composta por três membros.
Atualmente a Diretoria da Sociedade é exercida pelo Sr. Antônio Agnelo Pereira. Ministro de Oxalá, Oxogum e Obalaxé do Ilé Iya Nassô Oká, Casa Branca.
A Diretoria de Honra da Entidade é composta pela Trilogia Sacerdotal do Axé, atualmente representada nas pessoas da Iya Altamira Cecília dos Santos , Iya Juliana da Silva Baraúna e Iya Areonite da Conceição Chagas . Existe ainda a Diretoria do Patrimônio e uma Comissão de Defesa do Patrimônio.

Calendário de festas

As obrigações religiosas da Ilé Axé começam no fim de maio ou princípio de junho com a Festa de Oxossi . No dia de Corpus Christi tem a tradicional Missa de Oxóssi
A Festa de Xangô Airá tem lugar a 29 de junho.
Na última sexta-feira de agosto, realiza-se a Cerimônia da As Águas de Oxalá , seguindo-se os três domingos consecutivos, nos quais se festeja Odudwa no primeiro, Oxalufan no segundo e a Festa do Pilão em homenagem a Oxaguian , no último domingo.
Na segunda-feira imediata, festeja-se Ogum e na seguinte Omolú .
Havendo no entanto, um espaço para iniciação de novas filhas, prossegue as festas em louvor a Yansã , Xangô , Festa das Iabás e Oxum , terminando o cíclo festivo no final de novembro.

As Águas de Oxalá

As Águas de Oxalá no Ilê Opó Afonjá é descrita sem detalhes. Os filhos do Axé, trajados de branco, saem em silêncio do terreiro , em procissão, carregando potes e moringas, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá .
No tempo de Mãe Senhora , dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro.

Terreiro do Gantois

A Sociedade São Jorge do Gantois , Terreiro do Gantois ou Axé Yamassê como é conhecido fica no Alto do Gantois, 33, no bairro da Federação, Salvador , Bahia .
Essa é outra grande casa de candomblé Gêge-Nagô, que também nasceu da Casa Branca do Engenho Velho , foi fundado por Maria Júlia da Conceição Nazaré em 1849.
O nome Gantois veio de um francês que era o dono do terreno onde o templo religioso foi construído.
O que diferencia o Gantois de outros terreiros tradicionais da Bahia, como o Axé Opô Afonjá , Casa Branca , Terreiro do Bogum e outros, é que a sucessão se dá pela linhagem e não através de escolha pelo jogo de búzios. De acordo com o antropólogo Julio Braga: "Historicamente, o Gantois é um candomblé familiar de tradição hereditária consangüínea, em que os regentes são sempre do sexo feminino", em entrevista fornecida ao Correio da Bahia.

Opó Afonjá

Ilê Axé Opó Afonjá

Ilê Axé Opó Afonjá , Centro Cruz Santa do Axé do Opó Afonjá , fundada em 1910, localizada na Estrada de São Gonçalo do Retiro, Salvador , Bahia
O Tombamento Terreiro Opo Afonjá relizado em 28-7-2000 pelo IPHAN

Terreiro Opo Afonjá

(Redirecionado de Tombamento Terreiro Opo Afonjá para Terreiro Opo Afonjá .)
Livro do Tombo: arquivo Noronha Santos - Terreiro do Axé Opô Afonjá (Salvador, BA), Outros Nomes:Terreiro de Candomblé do Axé Opô Afonjá; Ilê Axé Opô Afonjá
Descrição:A história do Terreiro do Axé Opô Afonjá, assim como a do Terreiro do Gantois, está intimamente vinculada ao Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho. Este é o Terreiro mais antigo de que se tem notícia e o que, segundo vários autores, serviu de modelo para todos os outros, de todas as nações. Um grupo dissidente do Terreiro da Casa Branca, comandado por Eugênia Anna dos Santos, fundou, em 1910, numa roça adquirida no bairro de São Gonçalo do Retiro, o Terreiro Kêtu do Axé Opô Afonjá. O terreiro ocupa uma área de cerca de 39.000 m2. As edificações de uso religioso e habitacional do terreiro, ocupam cerca de 1/3 do total do terreno, em sua parte mais alta e plana, sendo o restante ocupado pela área de vegetação densa que constitui, nos dias de hoje, o único espaço verde das redondezas.
Por força da topografia do terreno, as edificações do Axé Opô Afonjá se distribuem mais ou menos linearmente, aproveitando as áreas mais planas da cumeada, tornando, no acesso principal, um "terreiro" aberto em torno do qual se destacam os edifícios do barracão, do templo principal - contendo os santuários de Oxalá e de Iemanjá -, da Casa de Xangô e da Escola Eugênia Anna dos Santos. A organização espacial do Axé Opô Afonjá mantém as caracteríticas básicas do modelo espacial típico do terreiro jejê-nagô. Esses mesmos elementos, são também encontrados nos terreiros da Casa Branca e do Gantois, apenas com uma diferença: no Axé Opô Afonjá o barracão é uma construção independente, ao passo que nos dois outros terreiros ele está incorporado ao templo principal.
Endereço: Rua Direta de São Gonçalo do Retiro, 557, Cabula - Salvador - BA
Livro Histórico Inscrição:559 Data:28-7-2000
Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico Inscrição:124 Data:28-7-2000 Nº Processo:1432-T-98.

Candomblé Jeje

(Redirecionado de Jeje para Candomblé Jeje .)
Os voduns são divindades de origem Fon que correspondem aos orixás dos nagôs. Os fons, ao chegarem no Brasil , eram chamados de "Jejes", implantaram aqui o seu culto, baseado em rica, complexa e elevada mitologia.

Terreiro do Bogum

O Terreiro do Bogum está localizado na Ladeira do Bogum, antiga Manoel do Bonfim, no Bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador , Bahia , Brasil .
O Terreiro de Bogum, de Nação Jeje , é diferente dos outros terreiros de Salvador. Uma das principais diferenças é a língua falada nos rituais. Como explica Jaime Sodré (ogã da casa há 35 anos), a língua falada pelos jeje é o ewé , do povo fon , com tradição ligada ao Benin . A maioria dos candomblés baianos é de tradição nagô e utiliza como língua o iorubá . Além da língua, alguns rituais dos jeje são diferentes. No Terreiro do Bogum não existem orixás , lá se cultuam os voduns e recebem outras denominações.
A missa em homenagem a São Bartolomeu é feita anualmente há 200 anos, tendo-se tornado uma tradição do Terreiro do Bogum.
Zaildes Iracema de Mello, Mãe Índia, é a atual chefe do terreiro, tendo sucedido sua tia Nicinha e sua tia-avó Valentina (Runhó).
Segundo historiadores, foi no local onde está o Bogum que Joaquim Jêje, herói do movimento de insurreição de escravos malês, deixou o bogum (baú) onde estavam os donativos que permitiram a famosa Revolta dos Malês ocorrida em Salvador em janeiro de 1835. Esses escravos sabiam ler e escrever em árabe, tinham grande poder de organização e articulação e pretendiam fundar um "reino africano" em terras brasileiras, mas foram traídos e a "revolução negra-escrava" foi descoberta. O termo "bogum" também pode ser explicado pelo dialeto gun  ( http://www.ethnologue.com/show_language.asp?code=GUW ) (dialeto do fon com muitos elementos do iorubá), falado na região de Porto Novo, no Benin, significando "lugar ( ibo ) dos fon ( gun )". O nome completo do terreiro é Zoogodô Bogum Malê Rundó .
UM RESULMO DO QUE FOI A REVOLTA DOS MALÊS
A Revolta dos Malês
Durante as três primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravos explodiram na província da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais a islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que protagonizaram a rebelião, conhecida como dos "malê", pois este termo designava os negros muçulmanos, que sabiam ler e escrever o árabe. Sendo a maioria deles composta por " negros de ganho ", tinham mais liberdade que os negros das fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora tratados com desprezo e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos lhes deixavam, conseguiam comprar a alforria.
Em janeiro de 1835 um grupo de cerca de 1500 negros, liderados pelos muçulmanos Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, dentre outros, armou uma conspiração com o objetivo de libertar seus companheiros islâmicos e matar brancos e mulatos considerados traidores, marcada para estourar no dia 25 daquele mesmo mês. Arrecadaram dinheiro para comprar armas e redigiram planos em árabe, mas foram denunciados por uma negra ao juiz de paz. Conseguem, ainda, atacar o quartel que controlava a cidade mas, devido à inferioridade numérica e de armamentos, acabaram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional , pela polícia e por civis armados que estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra .
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros. Duzentos escravos foram levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. Apesar de massacrada, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de contestação e rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II.
AS ÁGUAS DE OXALÁ
(do livro História de um Terreiro Nagô - Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI - Max Limonad-Joruês Cia Editora)
O Ciclo de Oxalá, Pai de Todos os Orixás
As Águas de Oxalá
Na quinta-feira à noite, antes de se iniciarem os preceitos das águas de Oxalá, das dezenove até às vinte e quatro horas, todos os filhos e filhas da casa são obrigados a fazer um bori (obrigação que se faz coma fruta chamada obi e água) para poderem carregar as águas.
Depois desse bori, vão se agasalhar, até que são despertados pela Iyalorixá para iniciarem o preceito das águas.
Os filhos do Axé, trajados de alvo, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes e moringues, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá. No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro.
Meia hora depois, com suas vasilhas cheias d'água, aproximam-se de um lugar apropriado, todo cercado de palha, com uma oca indígena, chamado Balué, onde se colocou o assento do velho Oxalá. Alí, todos apresentam aquelas águas à Iyalorixá, que as derrama por cima do assento de Oxalá. São feitas três viagens à fonte ou aonde está a água, e, na terceira, a água não é mais derramada, ficando todas as vasilhas cheias depositadas no Balué, sendo colocada uma cortina branca na porta e uma esteira no chão.
Cada pessoa que chega ajoelha-se sobre aquela esteira em sinal de reverência. Algumas pessoas, os que têm orixá masculino, dão Dodobalé, deitam-se de fio ao comprido, tocando a cabeça no chão. As demais dão o Iká otun iká osi, virando-se de um lado e do outro, tocando o chão com a cabeça - são as que têm o orixá feminino. Depois dessa cortesia, a Iyalorixá, juntamente com todos os seus filhos e associados, começa a cantar uma saudação para Oxalá (Oriki):
Babá êpa ô
Babá êpa ô
Ará mi fo adiê
Êpa ô
Ará mi ko a xekê
Axekê koma do dun ô
Êpa Babá
Depois de cantada essa saudação, todas as pessoas pertencentes à Oxalá são por ele manifestadas e vão até o Obalué, que é, como já se viu, onde está o assento do orixá.
Fazem ali determinadas reverências e cumprimentam a todos, agradecendo o sacrifício daquele dia e rogando a Oduduá para abençoar a todos.

Fonte de pesquisa


                          
    Histórias ou lendas sobre a minha raiz

Fundada pelos escravos Manoel VenturaTixaremeZé do Brechó e Gaiaku Ludovina Pessoa, também conhecida como Ogum Rainha que muitos acham que ela deveria ter sido uma rainha mesmo, Manuel Ventura, era só o dono das terras.
Tixareme foi o primeiro Pejigan da Roça e Ludovina sería a primeira Gaiaku. Essa roça foi aberta por Ludovina para a sua filha Maria Ogorenssi mais conhecia como Ahumsi misimi que levou essa roça com muita força e independencia sendo assim denominada de Djejê Maxi Axé Seja Unde, onde ela iniciou alguns vodunsis, como o saudoso Tata Fomotinho (Antonio Pinto de Oliveira) ou Oxum Ojunto Deí, que foi para o Rio de Janeiro levando um pouco do que lá aprendeu.

Ludovina Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), daomeana foi escolhida pelos Voduns para fundar três templos na Bahia.
Ela fundou:
O templo de Ajunsun-Sakpata foi fundado mais tarde pela africana Gaiaku Satu, em Cachoeira e São Felix e recebeu o nome de Axé KPó Egi, mais conhecido por Terreiro Cacunda de Yayá, que tem como sua representante a Gaiaku Maria de Lourdes Buana(Ya Ominibu Kafae foobá), filha de Mae Tança de Nanã (Jaoci) que era filha de Gaiaku Satu.




Tata Fomutinho



Zezinho da Boa Viagem


Depoimento de José Gomes de Lima – Zezinho da Boa Viagem: (Meu avô de Santo) 
Quem trouxe os mahin para Cachoeira de São Félix foram os “tios”. Eles se dividiram em cachoeira porque junto com eles, em outra levada, vieram Tixarene, Zé do Brexó e outras pessoas mais que fundaram suas roças.
Vovô Ventura e Gaiaku Ludovina fundaram a roça do Kwe Seja Hundê que é a roça de baixo; Tixareme fundou a roça de cima, quer dizer, duas nações jeje a vinte metros uma da outra…quando morre uma mãe-de-santo, nosso pai que descende de Komadavit, então é ele quem aponta a pessoa que vai ficar no trono.
A minha primeira zeladora foi Iyá Fortunata, Baiana de Pina. Filha de Oxum e Oyá. Posteriormente fui iniciado pelas mãos de Tata Fomotinho em São João de MeritiRio de Janeiro
Tata Fomotinho foi o primeiro homem feito no Seja Undê em 25/12/1912. Veio para o Rio em 1930 abrindo sua casa mais tarde em 1936.
Luiza Franquelina da Rocha, nasceu em 1909 e é mais conhecida como Gayaku Luiza do Hunkpame Huntoloji, no alto da levada em cachoeira. È filha carnal do pejigan do Seja Hundê. Inicialmente foi feita no ritual ketu, sendo mais tarde “refeita” no ritual jeje por Gayaku Posusi Rumaninha (Maria Romana Moreira) no candomblé do Terreiro do Bogum em 1945, na qualidade de rumbono.
Gaiaku Romaninha não tinha terreiro fixo, por ser muito conceituada tinha acesso a todos, tendo sido “ Dere “, mãe-pequena do Terreiro Bate Folha, advindo daí, talvez, a influência de ritos jeje no ritual de Angola. Faleceu em 1956 com 115 anos de idade.
Os avós maternos de Dila de Obaluaye tinham cargo no candomblé de Rozena de Bessen: Afonsekoloanoo de Sango, foi o primeiro pejigan e Adpan Noeji foi feita de Oxumare.
Quando Aninha morreu, Dila tirou a mão com Mejitó, que lhe abriu a casa.
Mejitó, Adelaide do Espírito Santo, também conhecida como Donontinha, foi iniciada com 7 anos de idade em 1891, pois era costume fazer iniciação quando criança.
Era de Vodunjo e o nome dado foi Zinvode. Mudou o candomblé do bairro de Cavalcante para a Rua Cecília em Coelho da Rocha, próximo à atual sede do Àsé Òpó Àfònjá do Rio de Janeiro. Com quem mantinha boas relações com a dirigente da época, Agripina de Souza. Tirou dois barcos com seis pessoas, vindo a falecer em 1956.
Para finalizar também existe uma outra casa de Jeje na Bahia de nome àsé Kpó eji, na Cacunda de Yayá, com ritual Savalu e fundada por Gaiaku Satu de Cachoeira."
Esta Nação é Jeje Mahi, que foi comandada por Sinhá Romana, irmã de Santo da Gaiaku Ludovina Pessoa.
Pela ordem genealógica os Sacerdotes:
  • Tixareme (Fundador)
  • Ludovina Pessoa (Fundadora)
  • Gayakú Ogorenssi,
  • Gayakú Abali,
  • Gayakú Pararassi,
  • Gayakú Aguéssi, Elisa Gonçalves, dona da terra.
  • Gayakú Gamo Lokosse que foi escolhida por Sinhá Pararassi para ser a herdeira do trono.
  • Gayakú Alda de Oyá - (Fomo Oiassy) atual sucessora.



Fundação Cultural Palmares

Depois de 1933 o Candomblé nunca mais seria visto da mesma maneira. Foi nesse ano que João Alves de Torres Filho, o Joãozinho da Goméia, foi iniciado na religião pela tradição Angola. O garoto nascido em 27 de março de 1914, na cidade de Inhambupe, a 153 quilômetros de Salvador, Bahia, foi dono de personalidade que seria o combustível para tal mudança. Seria ele, o grande responsável pela popularização da religião no Brasil e ficaria conhecido como Rei do Candomblé.
Foi aos 10 anos de idade que o garoto começou a sentir fortes e inexplicáveis dores de cabeça e a sonhar constantemente com um “um homem cheio de penas”. Avisos dos orixás que o fariam buscar a iniciação na religião e tornar-se o primeiro sacerdote do Candomblé de Caboclo realmente conhecido no país. Em outra fase de sua vida, refez o santo no Terreiro do Gantois com Mãe Menininha e eternizou-se como referência nas tradições do Candomblé: Angola, Bantu e de Caboclo.
Preconceitos e ascensão - Negro, de personalidade irreverente à sua época e à sua envergadura como líder espiritual, Joãozinho foi homossexual assumido, compositor, dançarino, costureiro e bom garantidor de polêmicas ao apresentar as danças sagradas dos orixás em espaços públicos. Além do racismo e dos preconceitos vividos por suas escolhas de vida, sofreu críticas dos seus irmãos de religião que não admitiam um pai-de-santo se dedicar a um caboclo – espírito encantado originário das religiões indígenas, sem relação com a África -, no caso, o Caboclo Pedra Preta.
Joãozinho foi um homem com ascensão meteórica para um religioso que transgredia as regras dos chamados grandes terreiros. Sabia do poder da imprensa e nela se apoiou ao ponto de chegar a uma fama comparável somente a de Mãe Menininha do Gantois. Foi o primeiro pai-de-santo a perceber o poder da comunicação e a usá-lo para reduzir a discriminação contra o Candomblé.  Manteve relações com publicações importantes como a revista O Cruzeiro e, apesar de todo esse reconhecimento, esteve longe de ser uma unanimidade entre o povo de santo.
Seu primeiro terreiro foi erguido num bairro chamado Ladeira de Pedra, mas logo foi transferido para o local que o tornou famoso, a ponto de incorporar o endereço ao próprio nome: Rua da Goméia. Em 1948, o pai-de-santo deixou a Bahia e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde abriu casa no município de Duque de Caxias. Seu terreiro era feito com modestas instalações, o que não o impediu de tornar-se um local famoso.
Ainda, nas décadas de 1950 e 1960, o Terreiro da Goméia passou a ser referência, não só por ser um dos primeiros terreiros de Candomblé na região sudeste, mas também pelos seus frequentadores, políticos e artistas de todos os lugares. Entre eles, Cauby Peixoto, Dorival Caymmi, Emilinha Borba, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Maria Antonieta Pons, Marlene, Paulo Gracindo, Solano Trindade, Tenório Cavalcanti e José Bispo dos Santos ou Pai Bobó.
Passagem – Após 57 anos de vida e 40 de dedicação ao Candomblé, Joãozinho da Goméia desencarnou. Era 19 de março de 1971, quando na mesa de cirurgia o babalorixá não resistiu ao procedimento que o libertaria de um tumor cerebral. Por estranha coincidência, no mesmo dia, seu terreiro em Duque de Caixas promoveria o Lorogun – uma das grandes cerimônias do Candomblé que significa o fechamento do terreiro para o período da Quaresma.
Joãozinho foi sepultado no cemitério de Duque de Caxias, num dia em que uma chuva de proporções míticas caiu sobre o Rio de Janeiro, exatamente na hora em que seu ataúde baixava à sepultura. Para os adeptos, uma manifestação de Iansã recebendo seu filho, o que culminou em muitos filhos-de-santo incorporando seus orixás e dançando, em transe, em pleno cemitério.
Herdeiros da Goméia - Sete dias após a morte de Joãozinho, os búzios foram jogados para que fosse indicado o herdeiro do trono da Goméia carioca. Para surpresa de todos, a escolhida foi Sandra Reis dos Santos, aos nove anos de idade. Filha de Kitala Mungongo, iniciada por Joãozinho há 80 anos, Sandra que é  hoje Ceci Caxi, nasceu dentro da Goméia no dia primeiro de novembro de 1961, pelas mãos do próprio seu João, que também foi seu padrinho de batismo.
Os terreiros erguidos por Joãozinho foram extintos depois de sua morte. Porém o babalorixá formou diversos filhos-de-santo, que criaram novos terreiros em São Paulo e no Rio de Janeiro. São casas de Candomblé que ainda hoje se apresentam orgulhosamente como fazendo parte do “modelo Goméia”, ou da “raiz Goméia”. No Sudeste, seu nome é uma verdadeira grife da religião. Em Salvador, o terreiro também teve um triste fim, foi desfeito e a área onde se localizava é hoje ocupada por instalações da Embasa.
Entre os religiosos que também dão continuidade a linhagem da Goméia, estão ainda  Maria Lúcia Santana Neves (mãe Lúcia), herdeira da Goméia na Bahia, e Sebastião Paulo da Silva (Gitadê), que se responsabilizou por garantir descendentes da linhagem em São Paulo, estado para onde levou os assentamentos de Joãozinho a fim de zelar para que os ibás de seu Oxossi e sua Iansã permaneçam devidamente cuidados e alimentados.
Quanto ao caboclo Pedra Preta, a entidade mais famosa incorporada por Joãozinho, ficou sem um sucessor à altura. O assentamento do Caboclo se encontra atualmente no Terreiro São Jorge, na Bahia. As histórias contadas pelas pessoas que conheceram Joãozinho são o que vêm perpetuando sua memória.

A Fundação Cultural Palmares tentou entrar em contato com os herdeiros da Goméia para entrevistá-los, porém não foi possível 
devido a condição de saúde de Gitadê, a viagem de Mãe Lúcia à Portugal e a localização de Ceci Caxi.
Fontes:
Artigo Joãozinho da Goméia, o Rei do Candomblé de Marccelus Bragg
Artigo A Luta pela Goméia e o Resgate da história de  Waldemar Alvarenga Lapoente
Artigo O Negro Baiano Pai Joãozinho da Goméia: o Candomblé de Duque de Caxias na mídia dos anos cinquenta de Joselina da Silva
Artigo Joãozinho da Goméia, o Tatá Londirá, o Rei do Candomblé de Caboclo por Alexandre Santos